IN AND OUT

Pedro Bola decretou:

- O in agora é ser evangélico.

E a moda pegou naquele balneário perdido abaixo da linha do Equador. E ai de quem desobedecesse. As punições eram das mais severas: perda de cidadania, fim dos cheques Bolsa-Família, vale-transporte e vale-refeição. Como a população não era muito disso nem muito daquilo, de repente o contingente dos evangélicos dobrou de tamanho. As pessoas passaram a se cumprimentar assim:

- Maria da Vila, evangélica sim senhor.

- Paulo Tomé, líder da torcida do senhor Jesus. Evangélico de pai e mãe.

Dona Zilda se indignou. Não gostou dessa nova moda ditada por Pedro Bola. Adepta da umbanda sempre fez muita fé no seu pai de santo, e não era agora, nessa altura da vida, que tinha que seguir regras arrotadas por um babaca do interiorzão que chegando na cidade grande vinha posar de Big Boss. Ela sabia também, da ojeriza que despertava o espiritismo nas milícias do exército de Jesus, e por isso não simpatizava nem um pouco com a intolerância desses cristãos novos, como ela dizia.

Dona Zilda gostava de passear na Casa Rui Barbosa, em Botafogo, que abria suas portas para os moradores usufruírem das delícias de um jardim muito bem cuidado. Ela, já um pouco surda, dava suas caminhadas diariamente por ali. Havia uma igreja universal pelas imediações e mais cedo do que ela esperava a Casa Rui Barbosa se viu inundada por gente da igreja a distribuir jornais, folhetos, e falando em nome de Jesus, como se Ele fosse de uso único e exclusivo deles. Ela reclamou com a Casa, que disse não poder fazer nada. Procurou na lei se havia alguma brecha para “assédio religioso”, mas também não encontrou. Então, arquitetou um plano.

Numa bela manhã quando viu que aquela mulher coberta do queixo até o pé se dirigir em sua direção, se pôs de guarda.

- Jesus é seu amigo, a senhora sabe.

- Sei.

- Ah, que bom, sou Lindalva, obreira da Igreja Universal.

- E eu, Zilda, freqüentadora do Terreiro do Exu Cobra Coral.

- Vade Retro, Satanás.

- Realmente, foi de ré e dobrou ali na esquina.

Por um bom tempo a Casa Rui Barbosa e Dona Zilda se viram livre dos obreiros da igreja Universal.

Comentários

-jr- disse…
:) Já fiz coisa parecida, acredita? Beijos.

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