quinta-feira, novembro 30, 2006
Passeio pela estrada Grajaú-Jacarepaguá
terça-feira, novembro 28, 2006
A PRIMEIRA NOITE DE VITTORIO GAMBONE
Vittorio tinha sido seu aluno de inglês. Adolescente aplicado, se destacou desde a primeira aula. Com grande aptidão para a língua, aprendia tudo rápido e ainda estimulava os colegas. Não havia quem não gostasse dele. Aquele ano passou rápido.
No ano seguinte, qual não foi a surpresa da professora quando viu Vittorio, de novo, na sua turma. Continuava o ótimo aluno de sempre e a professora, feliz com o reencontro, mais estimulada ficou. Tinha certeza de que seria um bom ano letivo.
O que chamava a atenção é que Vittorio nunca ia sozinho às aulas. Fazia-se acompanhar de sua mama, uma italiana gordona, muito simpática.
No terceiro ano, ele mudou de turma, mas sempre via sua professora nos intervalos do café. Ele começava a perder os ares de garoto. Crescera, encorpara e a barba já aparecia, delineando seu rosto viril. Mas a mama continuava presente.
No quarto ano, Vittorio, agora com dezoito anos, completava o curso começado seis anos antes. Saindo da adolescência e com barba cerrada parecia mais velho do que era. No último dia de aula, acercou-se de sua antiga professora e lhe pediu o telefone e e-mail. Enfim, não queria perder o contato. A mama, ao lado, sorria e abençoava.
Alguns meses se passaram e ele um dia lhe telefonou. Tinha arranjado um estágio numa multinacional e a entrevista seria
Ele chegou, pontualmente. Maura o abraçou carinhosamente e o levou para uma pequena salinha. Notou que ele estava constrangido e pouco à vontade. Resolveu conversar um pouco, em português, talvez para quebrar o gelo, mas o rapaz parecia que tinha outra coisa na cabeça. E, realmente, depois de alguns minutos, ele falou:
- Maura, não é de aula de inglês que eu preciso. O caso é o seguinte: sou virgem e gostaria que você me ensinasse a fazer sexo.
A professora olhou perplexa para o antigo aluno. A proposta inusitada lhe bloqueou os pensamentos por uma fração de segundos.
- Ora, Vittorio, isso até me envaidece, mas acho que não vai dar. Não preparei a aula, disse, tentando fazer graça.
O rapaz, sentado na poltrona bege, remexia-se, procurando uma posição mais confortável. Maura o olhava. Foi no abrir das pernas dele que
Vittorio saiu satisfeitíssimo, e Maura ri à toa até hoje.
TOCAIA
Chamava-se Espoleta o pequinês de Lucy. E fazia jus ao nome. Danadinha e muito mimada, a cachorra era tratada como uma filha, sempre cheirosa, bem escovada, com lacinhos e vestidos a lhe enfeitarem, Espoleta ia com sua dona a todos os lugares. Apesar de ter sua vida controlada pelo relógio, Lucy lhe dedicava os fins de semana. Iam ao Aterro pela manhã, e à tarde, invariavelmente ao Cafeína, no Leblon. Espoleta adorava andar de carro, e debruçada na janela, latia para tudo que lhe chamava a atenção. Não havia quem não se encantasse com ela.
Um dia, numa tarde, num cruzamento do Jardim Botânico, Lucy foi assaltada. Com a arma encostada no vidro do carro foi obrigada a saltar para dar vez ao ladrão de assumir o controle de seu veículo. Muito nervosa, e tremendo da cabeça aos pés, obedeceu, incontinenti, ao bandido. Só que Espoleta ficou no carro e Lucy gritava freneticamente pela cachorra.
- Espoleta, por favor, devolvam minha cachorra.
E saiu correndo atrás do carro, como pode. Alguns metros adiante, encontrou-a. Tinha sido arremessada do carro, disseram alguns passantes.
Lucy ajoelhou-se e, aos prantos, pegou-a no colo com muito cuidado. Por um momento não quis acreditar que sua cachorrinha tivesse morrido, mas a imobilidade dela não deixava dúvidas. Atordoada pela violência do assalto e arrasada pela morte de Espoleta, ela ficou por uns momentos fora do ar, sem saber o que fazer. Pela mão de uma pessoa se deixou levar para um barzinho, onde tomou água e refez suas energias.
A primeira providência foi se dirigir a uma delegacia, onde deu queixa. Viu-se vítima de escárnio e de ironia por parte dos policiais de plantão.
- Não podemos fazer nada. Esses assaltos já são rotina, madame. Lamento pela cadela.
Depois se dirigiu a uma clínica veterinária. Pediu para cremá-la. Suas cinzas iam ser jogadas no Aterro, onde ela gostava tanto de ir.
Chegando a casa se desfez de todas as coisas da cachorra. O primeiro dia sem o animal foi difícil. O segundo também, mas depois de uma semana começou a ter pensamentos mais claros em relação à violência a que foi submetida e decidiu agir por conta própria.
O carro foi achado num beco do Morro Santa Marta. Por uma estranha ordem do universo, sua empregada morava lá. Começou a perguntar sobre os traficantes e bandidos do morro e foi tendo uma lista considerável de nomes de pessoas ligadas ao tráfico e a roubo de carro.
Voltou à delegacia. Queria ver fotos. Talvez reconhecesse o bandido. A má vontade do delegado foi visível, mas ela não se importou. Logo nas primeiras fotos reconheceu o bandido que a assaltou. Agradeceu e saiu de lá, arquitetando um plano perigoso. Comprou uma arma e dedicou-se a algumas horas, por semana, de aula de tiro ao alvo. Levava jeito. Com a ajuda da empregada, conseguiu um roteiro dos poucos lugares que ele freqüentava. Gostava, principalmente, de restaurantes da moda. Costumava ir com uma comitiva pequena: dois colegas e a namorada. Preparou-se. Seguiu-o noite e dia. Naquela tarde, ele estava apenas com a namorada comendo uma pizza na Capricciosa. Ela o esperou no seu carro, com a arma engatilhada. No que saíram, sua arma disparou. Fulminante. Matou os dois. Ninguém viu e não havia policial por perto. Jogou sua arma no mar e voltou calmamente para casa. Meses depois, se mudou de vez do Rio de Janeiro. Hoje mora em lugares mais gentis e tem um canil. Está muito feliz.
Controladores de vôo
AUTOPUNIÇÃO
Tinha esse estranho hábito de se punir comendo os dedos. Era tal a avidez com que devorava as pelinhas incômodas, como sugava, com prazer, o sangue que jorrava, numa dentada mais arriscada. Sentinela implacável de si mesma, não se permitia sair da rotina rígida que se impusera. Mas, distraída, às vezes transgredia e, conseqüentemente, quem sofria eram os dedos. Ficavam em carne viva. Um dia em que a depressão bateu forte, ingeriu uma barra grande de chocolate. No que acabou de se deliciar, começou o martírio. Devagar, com o alicate de unhas, começou a devastar a cutícula. Feria, lambia e sugava. Enfiava o alicate, mordia, atacando laterais e polpa dos dedos. O sangue jorrava. Foi para os sabugos. Enfiou a tesourinha. Uma euforia danada foi tomando conta dela. Quanto mais aleijava os dedos da mão, mais se sentia feliz. Foi até a cozinha, pegou a faca e cortou os dedos da mão esquerda. Lambuzada de sangue, morreu feliz com o dedo entalado na garganta.
segunda-feira, novembro 27, 2006
18 de julho
nasci
no dia 18 de julho
meu espírito
que vagava
e passeava pelas nuvens
decidiu que
naquele dia
iria renascer
escolheu o lar
a cidade
o país
o casal
e
nesse dia iluminado
nasceu
nasci
quentes verões
alegres adolescências
e sensuais primaveras
a maturidade me pegou de surpresa
e quando vi
já era outono
com chuvas
desaguando no meu jardim
mas mesmo assim
ainda me emociono
no dia 18 de julho
com meus sonhos de menina
e com saudades de mim
Milton Hatoum e o livro Dois Irmãos
Marias
MARIAS..
- Maria Cristina, como você está magra? Que que aconteceu?
-Eu??? Estou com o mesmo corpo!!
Maria Lúcia, indiferente ao estrago que produziu na mente de Maria Cristina,
Nisso entrou Maria Eduarda que foi logo interpelada por Maria Cristina.
_ Maria Eduarda, você acha que estou mais magra?
- Não, você está como sempre esteve: corpaço e dona de pernas adjetivas. Aliás, quem me dera ter suas pernas. Você não acha, Maria Fernanda - que estava fazendo escova e até então muda – que Maria Cristina está igual: nem mais nem menos magra?
- Acho, e hoje em dia o politicamente correto é não falar coisa alguma sobre a aparência da pessoa.
- Ah, mas assim é demais, retrucou Maria Cristina. Se é pra levantar o astral, tudo bem.
- Então, vai ver que foi isso que Maria Lúcia fez. Comentou que você estava mais magra pra te agradar. Quem é que gosta de ouvir que está gorda?
- Ah, mas o tom não foi bem o de agrado. Sou macaca velha, conheço todos os tons e semitons do elogio, falou Maria Cristina. Ela quis é me derrubar.
A conversa evoluiu para outras coisas e depois de uns dedos de prosa, Maria Eduarda e Maria Fernanda saíram juntas para um café na lanchonete do térreo.
-E num é que Maria Cristina está mesmo mais magra? diz Maria Eduarda.
- E não ficou nada bem, envelheceu. Você viu como o rosto dela está encovado? acrescentou Maria Fernanda.
- Vi, menina, mas não sou eu quem vai dizer isso pra ela.
- Nem eu, respondeu a outra.
E seguiram felizes para o café.
domingo, novembro 26, 2006
Sobre cinema: Almodóvar e seu Volver
Jeitinho Carioquinha de Ser
JEITINHO CARIOQUINHA DE
Carioquinha sou
- Hay ley, soy
brigo, dou
sou
urino,
e
faço é
o
dá pro
e
e
sábado, novembro 25, 2006
MUDANÇA DE OPINIÃO
Todo mundo que estava na piscina do prédio ouviu Carla Regina, em alto e bom som. As mães dos adolescentes se entreolhavam. Então, a fofoca envolvendo ela e Carlos Henrique era verdadeira. Se bem que Carlos Henrique não era propriamente um garoto. 23 anos, estudava e trabalhava. E Carla Regina era um pouco mais velha do que ele- 25. Todavia, as mães sabiam que ela fazia o maior sucesso entre a garotada. Caio e César, gêmeos, disputavam quem seria o primeiro a receber beijinhos dela, e só tinham nove anos. Igor vivia falando das suas pernas e já tinham visto o pintinho de Luís Antônio subir quando num descuido na piscina, os seios dela pularam para fora do biquíni.
Reuinão das mães, muito apreensiva.
- Se ela não come mais garoto, vai comer o quê?
- Nossos maridos.
- Nossas filhas.
Foi um deus nos acuda. Sossegaram quando ela tirou um chocolate belga da bolsa e proclamou.
- O melhor chocolate do mundo. Agora só como esse.