E não há muito tempo atrás, saiu no mesmo jornal, uma matéria sobre cinema em que o alto custo dos ingressos era comentado. E de fato está muito caro.
segunda-feira, setembro 22, 2008
O PREÇO DOS INGRESSOS DO CINEMA HÁ 50 ANOS ATRÁS
E não há muito tempo atrás, saiu no mesmo jornal, uma matéria sobre cinema em que o alto custo dos ingressos era comentado. E de fato está muito caro.
quinta-feira, setembro 18, 2008
ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA E LINHA DE PASSE
Já em Ensaio sobre a Cegueira o enfoque é mais alentador, há uma luz no fim do túnel quando a população que havia ficado cega começa a enxergar. Ambos os filmes me incomodaram, me fizeram sentir pequena e insegura, mas é isso - arte tem que incomodar.
segunda-feira, setembro 15, 2008
LINHA DE PASSE E A CENA DO VEÍCULO DE RADAR MÓVEL INCENDIADOaR
Vamos começar pela depredação da cidade inteira, dos óculos de Drummond ao pênis do Manequinho, às esculturas de Mestre Valentim, das pixações das estátuas, e etc, etc. e etc. e tal. As autoridade comparecem e remendam o mal e fica assim até ao proximo ato. Quem faz isso? De onde vêm essas pessoas? Têm família? Emprego? Vã à escola? Eu não sei, você sabe? O que me revolta e ao mesmo tempo me instiga é descobrir porque não há uma política de moral e cívica que se implante em todas as escolas,noções de cidadania, de respeito ao bem público, de higiene sanitária doméstica e urbana e de tudo mais que diferencie o homem do animal. Estamos, nessa cidade, nos comportando como verdadeiros animais: defecando, urinando e fazendo sexo nas ruas, que por sua vez estão imundas , cheias de esgoto parado, muros pichados, fiação elétrica das ruas quase batendo nas nossas cabeças, enfim, uma cidade como só vI na Índia. Não vou negar que a natureza ainda impressiona, mas o que está no asfalto, ASSUSTA.
E o jornal mostra jovens sorridentes com o incêndio de uma kombi que portava radares móveis. Ficaram felizes e mostraram seu contentamento para as câmeras. É um equívoco preocupante. Pra mim mostra um desprezo pelas leis que deveriam dar segurança a todos, inclusive a eles, motoqueiros, os que mais morrem no trânsito.
E então, fui ver LINHA DE PASSE, que aborda a vida de uma família periférica, cuja mãe tem um filho de homens diversos, é empregada doméstica, é incapaz de dar amor ou cuidar de seus filhos, que são párias nessa sociedade de consumo que a gente vive ( igual a Índia que também tem gente assim - são os intocáveis). O filme é intenso e faz sofrer. Sabem por que faz sofrer? Porque não há luz no fim do caminnho. Duvido que os personagens do filme tenham algum futuro nesse nosso mundo. e não vai haver Bolsa- Família que dê jeito.Enquanto não houver escolas de verdade e se criarem oportunidades de fato, os nossos párias só vão dar certo no futebol ou assaltando para sobreviver. E claro, debaixo da asa de um Fernandinho Beira-Mar.
segunda-feira, setembro 08, 2008
CASAL GAROTINHO- TSE ARQUIVA PROCESSO
AEROPORTO TOM JOBIM
OS DESAFINADOS
terça-feira, setembro 02, 2008
LEMON TREE- o filme
A ELEGANCIA DO OURIÇO- Muriel Barbery
MARCO AURÉLIO
Por muito tempo foi gerente do tráfico na comunidade onde morava. Durão, mantinha todo mundo nos trinques, embaixo da asa. Não matava, tinha horror de droga, mas a grana era boa e ele topava. Era muito respeitado, até que num vacilo a corda arrebentou pro lado mais fraco e foi preso. Ficou pouco tempo na prisão, mas ao sair, não quis o antigo posto. Queria mudar de vida, mesmo que ganhasse salário mínimo. Queria servir de exemplo para o filho, que nascera quando ele estava na prisão e já era um moleque de quatro anos.
Foi num momento de raiva que matou o vizinho. Por pura bobagem. Os dois moleques, o filho dele e do outro disputavam uma bola. O vizinho, querendo agradar ao filho, empurrou o filho do outro e ele caiu ao chão. O ferimento no braço foi coisa-à-toa, mas Marco Aurélio se enfezou, veio com a arma e matou o pai do amigo do filho. Onde já se viu? Empurrar assim, sem mais nem menos o meu moleque? A comunidade entendeu, não tomou partido e velou o morto. Mostrou serviço, o cara é bom. Fazer o quê? Mas voltar pro tráfico não queria não. Ainda mais que Rosilene pintou na jogada. Bem arrumadinha, gostosinha, enfermeira com salário fixo e casinha no alto, foi olhar e se aboletar na casa da mina. Colchão bom, se precisar de consertos domésticos, sei fazer de tudo. E foi fazendo. Nesses noves anos juntos passou por muita coisa. Conseguia trabalho ganhando uma merreca, mas cumpria horário e fazia qualquer coisa. Não assinavam a carteira, sabe como é, presidiário, a gente tem medo, era o que diziam. Mas ele agüentava firme e ia em frente. Era um cara legal, e esforçado, isso todo mundo reconhecia. O ponto alto foi quando teve um caso com a secretária do diretor da empresa onde trabalhava como chefe da limpeza e jardineiro quando o tempo dava. Ele se apaixonou e já se viu morando em Copacabana com a dona. Num por acaso de hora incerta, ele estava ali, disponível, o beijo furtivo gostoso, o volume dele, despudorado nas suas coxas, abraço apertado, resolveu arriscar. De 5 a 10, deu nota 6. O cara metia legal, mas no depois é que a coisa falhou. Não teve tino pra apreciar um bom vinho e não gostou do queijo francês e das torradinhas que ela, elegantemente, colocou sobre a mesa. Estava com fome. Atracou-se num pão com manteiga e na cerveja e lambeu os beiços de tão bom. Ficaram amigos e ele continuou com a enfermeira. O sonho de morar em Copacabana esvaiu-se na espuma da Brahma.
Foi descendo a ladeira que Lineide o viu. E caiu-se de boniteza pro lado dele. Ele fingiu que não viu. Lineide era a mulher do dono do pedaço, o Gordão do tráfico, sujeito enfezado e porco que implicava com todo o mundo e com ele, sobretudo. Não se conformava com o fato dele não ter querido voltar para a vida bandida. Esse cara é mesmo mané, ganha uma miséria e é sustentado pela mulher. Ele sabia desse disse-me-disse mas fazia-se de desentendido. E o Gordo não perdia oportunidade de alfinetar, até que um dia, na festa de aniversário do filho, os dois se cruzaram na varanda da casa. O Gordo foi logo dizendo: que que tu tava falando com a minha mulher? Não ouviu quando ele respondeu: nada- Aliás a resposta não interessava. O que interessava era extravasar a raiva, mostrar macheza. Foi de soco na cara, que logo foi revidado. O Gordo levou a mão ao queixo que já sangrava, e ao bolso, de onde tirou a arma. Mirou a testa do adversário, agora desfecho o tiro e esse filho-da-puta morre. Marco Aurélio, num esforço supremo, teve certeza que foi Deus quem ajudou, conseguiu desviar a arma e foi pra cima do Gordo com tudo: encheu o outro de porrada, cavalgou em cima e só se ouvia o som oco de quem bate para não morrer. Saiu de lá ensangüentado, mancando e conseguiu chegar à casa da irmã, quilômetros longe dali, a pé, porque taxi não conseguiu. A enfermeira, sua mulher, não quis sair do morro. Minha casa é aqui e tenho mãe pra cuidar. Ele não se conformou, afinal foram dez anos, e então, se joga tudo pro alto, assim? Mas armou a vingança. Sou um homem de bem, isso não pode ficar assim.
Planejou a emboscada, tinha vários amigos que lhe auxiliaram, e num sábado de muito sol, muniu-se de uma arma emprestada e ficou à espreita. O Gordo saiu de sua toca, qual lacraia para beijar o sol, e o tiro foi certeiro. Não voltou pra lá, não queria confusão pro seu lado, mas aceitou Lineide do lado direito de sua cama. Mulher trabalhadeira, enfermeira que nem a outra, porque ninguém é de ferro. Enfermeiras cuidam bem da gente, disse pra sua mãe, quando foi visitá-la com a nova mulher a tiracolo.
A AMEAÇA
A calçada, em toda a sua extensão, estava tomada por vendedores ambulantes. Estendiam suas mercadorias em panos estirados sobre o chão ou em encaixes de madeira servindo de apoio. Vendiam biscoitos, balas, bolsas e roupas infantis. Alguns se abrigavam em baixo de barracas de plásticos, imundas. Outros se sentavam ao meio fio ou em bancos improvisados. Pessoas pobres vendendo para pessoas pobres. Se a bexiga apertava, se aliviavam ali mesmo, sem pudor e na frente de quem estivesse passando. De costas, melhor dizendo. Um grupo de pessoas barulhentas atiçou a falsa indiferença dos comerciantes da calçada. Ligados o tempo todo ao menor movimento suspeito, caixas e sacolas antes invisíveis, apareciam como por milagre e mãos treinadas e disciplinadas começavam a colocar a mercadoria exposta para dentro delas, enquanto os olhos se fixavam em algum ponto no horizonte à espreita do surgimento da tropa inimiga: a Guarda Municipal. Segundos tensos custavam a passar, mas ao perceberem que o alvoroço fora causado por estudantes, voltaram a se aquietar. Uma moça parou e comprou biscoitos. As moedas rapidamente deslizaram para o bolso da calça do homem. Numa outra barraca saiu um cachorro quente quentinho com molho para uma boca ávida de poucos dentes. O pipoqueiro, naquele dia, só vendeu um saco de 2 reais. Desistiu e foi para outra esquina. O movimento estava fraco. Forte era o sol que democraticamente banhava rostos e torsos expostos.