LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA
O relacionamento dos dois tinha altos e baixos. Mas o prazer de estarem juntos compensava os atritos do dia-a-dia. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, o tapa ia acontecer. Provocava. Ele se controlava, mas a comichão na mão crescia a cada briga. Numa delas, a mão dele varou o ar e se estatelou na face dela. Num segundo couberam anos de lembranças; as surras da infância. Ela apanhava do pai. Fazia parte da educação. Não no rosto, no corpo, mas a dor ficou gravada na alma. Não tem igual. Ela não chorou e nem achou que o marido fosse cafajeste por isso. Se o condenasse teria que condenar o pai. Não queria. Bateu nele também. Depois chorou muito, teve vergonha, mas não arredou pé. Surravam-se e se amavam. Virou praxe. Tão bom o amor com gosto de sangue! Mas chegou uma hora que não deu mais. Arrumou os trapinhos e não quis mais saber dele. Iniciou uma nova etapa. Nunca mais ninguém encostou um dedo nela.
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