domingo, agosto 26, 2007

LULA E A ELITE INTELECTUAL

Demorei a comentar o fato porque fiquei perplexa com as considerações do presidente Lula em relação às bolsas dos mestrados e doutorados. Não é possível que não enxergue que uma nação precisa de cientistas, mestres e doutores para sua evolução científica, tecnológica e literária. Uma nação se faz com homens e livros, já dizia Monteiro Lobato. É necessário sim, que todas as crianças estudem, mas tenho muitas dúvidas quanto ao assistencialismo do Bolsa Família. Canso de ler que o Brasil avançou alguns passos em relação à pobreza absoluta e fico querendo acreditar MESMO. Amigos mais radicais me acham ingênua, dizem que preciso aprender a ler entrelinhas. Não tenho essa habilidade. Leio o que vejo na minha frente. Porque também sou assim- falo direto sem subterfúgios. Mas voltando às primeiras linhas: o presidente Lula até porque não tem nenhum estudo acadêmico se vangloria de ter chegado à Presidência com pouco estudo, e por isso menospreza a elite intelectual. Acho esse pensamento muito perigoso e preconceituoso. Hoje lendo o jornal percebo que faço parte de uma corrente forte e brilhante que também acha que o Brasil não tem jeito não. É triste, mas também me alivia- reclamo com muita razão. Não gosto do seu governo e é só ver o que acontece- caos na saúde, na aviação, nas estradas e vai por ai afora.

sábado, agosto 25, 2007

A AMERICANA DO ARIZONA

A festa na casa dos Smiths prometia. O apartamento, num dos lugares mais nobres do Rio de Janeiro, o Parque Guinle, havia sido preparado especialmente para essa festa. Celebrava-se o noivado de Emily, a filha do meio do casal, com Chris da Silva, um publicitário carioca com pinta de cafajeste. Todos nós sabíamos a boa bisca que ele era, mas não tivemos coragem de dizer para ela. Também acreditávamos que ele poderia, desta vez, estar de fato apaixonado. Soubemos que não estava, e que continuava o cafajeste de sempre, quando seis meses depois terminou o noivado, e foi morar em São Paulo com uma antiga namorada. Suspiramos aliviados por Emily.

Eu tinha vindo para o Brasil num programa do Peace Corps e me encantei pelo jeito simpático dos brasileiros. Trabalhei com famílias humildes em Minas e quando vim passar uns dias no Rio de Janeiro, fiquei de tal modo seduzido pela cidade rodeada de morros e praia, que decidi que aqui seria a minha nova terra. Eu era um texano bonito, cabelos e olhos negros e bastante namorador. Transitava entre os dois sexos e naquela época estava com Edward, um brazilianist de Boston que estava a mais tempo no Brasil do que eu. Conheci-o num coquetel na casa do cônsul americano. Passamos a noite inteira conversando e percebemos que tínhamos muito em comum. Nada mais natural que iniciássemos uma relação, que foi ficando cada vez mais forte à medida que nos conhecíamos melhor. O Rio de Janeiro sempre foi uma cidade liberal, mas tínhamos cuidado em não mostrar que éramos um casal. Edward também era um homem bonito: louro, musculoso, deixava as meninas bem assanhadas. E morria de rir com isso. Em qualquer lugar que fossemos fazíamos sucesso. Mas éramos fieis um ao outro.

Quando vi Nicole entrar na ampla sala, meu coração balançou. Edward percebeu e não gostou, mas eu não liguei. Fiquei petrificado pela sexualidade felina daquela americana do Arizona, alta, delgada, sem nenhuma maquiagem, descalça, num vestido transparente que lhe deixava as costas nuas. Levava flores no cabelo cacheado, que formavam uma moldura natural para um rosto singular de soberana beleza. Ela era simplesmente deslumbrante. Nunca havia visto uma mulher assim. E não usava nada debaixo daquela roupa tão diáfana. Olhamo-nos por um bom momento. Não resistindo a tantos encantos me aproximei. Começamos a dançar. Para falar a verdade não foi bem uma dança. Eu diria que foi um ritual - o prenúncio do ato sexual. Éramos dois animais se seduzindo, se medindo. Desejávamo-nos com premência e ardor. O tempo todo eu só pensava em como levá-la para a cama. Não demorou muito e fomos nos amar no quarto de Emily. Fiquei cativo de Nicole. Não a larguei mais durante os meses que passou no Brasil. Não havia lugar para mais ninguém. Nem para Edward. Depois de alguns meses, ela foi embora. Passei um tempo depressivo, com saudades, e faltou muito pouco para que eu pegasse um avião e fosse atrás dela. Mas o meu trabalho começava a dar frutos e era importante que eu ficasse aqui. Acomodei-me.

O fato de poder transitar entre os dois sexos sempre magoava quem estava comigo. Só tive um parceiro que entendeu isso bem. Foi Terezinha, mãe de meus filhos brasileiros. Edward nunca transou com uma mulher. Para ele aceitar Terezinha e a minha bissexualidade demoraram vários anos. Eu queria casar, ter filhos, e isso nunca passou pela cabeça de Edward. E para levar meu plano casamenteiro em frente, nos separamos sexualmente, mas ficamos amigos. Ele é padrinho de meu filho mais velho e com o tempo já se incorporou à minha família. É o tio Ed.

Estou casado com Terezinha há trinta anos. E sou muito feliz. Minha carreira se consolidou no Brasil. Sou um nome conhecido no meio educacional. Fundei um instituto com o meu nome. Promovo intercâmbio com estudantes brasileiros e americanos. Viajar pelo meu programa é sinal de prestígio e segurança.

O dia em que você me telefonou dizendo que era a filha de Nicole, tive o pressentimento de que havia mais alguma coisa a ser dita. Quando lhe vi no saguão do hotel, de longe percebi que o pai era eu. Cheguei à casa abalado pelo nosso encontro. Não foi fácil dizer para minha mulher que você existia. E quando juntei as forças e falei, foi um rebuliço sem tamanho. Terezinha, apesar de ser uma mulher a frente do seu tempo, não conseguia aceitar o fato. Chorava pelos cantos. Nossa vida ficou difícil por alguns meses. Ela me evitava, os filhos se dividiram. Queriam e não queriam lhe conhecer. Consolavam a mãe e se viravam contra mim. Uma relação parecida ao amor e ao ódio, como se você estivesse roubando de mim algo que pertencia só a eles. Vivi um verdadeiro inferno familiar. Demorou muito para que o seu nome fosse pronunciado sem traumas. Seus irmãos, hoje, acham legal ter uma irmã americana. Já ouvi minha filha menor, Luísa, se referir a você com muita simpatia. E isso foi uma conquista. A minha tristeza e não lhe ter visto crescer, como vi meus outros filhos. A emoção das primeiras palavras dos primeiros passos, isso é tão importante. É um vácuo que jamais será preenchido. Mas também não culpo Nicole, foi um desejo dela de criá-la sozinha. No fundo foi um ato de extremo egoísmo. Ela sabia que eu estava apaixonado. As coisas poderiam ter sido um desfecho diferente. Às vezes apenas uma palavra muda a trajetória de uma vida. E a minha poderia ter sido mudada, se eu soubesse que tínhamos gerado um filho.

AS AUTORIDADES CARIOCAS ESTÃO MELANDO

Gente, até os bombeiros viraram marginais!! Não sei se me escangalho de rir de nervoso ou choro no meio-fio. A quem recorrer, moçada? A bandidagem aqui nesse país faz escola. Sei não, minha esperança em relação a esse pedaço de terra gigante em berço esplêndido, está escoando ralo abaixo. Sérgio, meu amigo querido, já me disse que devo prestar atenção pra não ficar reclamona, e apresentar soluções. Bem, tenho uma. Voltar ao passado e trocar de lugar com os Estados Unidos que tiveram, pelo menos uma descoberta e civilização com colonos que queriam se dar bem. But this is impossible, então o jeito é remar contra a maré. Fora Renan, fora Anac, fora Infraero, fora Sérgio Cabral que agora deu pra vaiar estudantes, fora César Maia que não cuida do Rio, fora Lula que chora como um bebê chorão, fora todo mundo. Vamos recomeçar, do zero. Como? Não sei. Aceito sugestões. Menos eu para Presidente.

CRIANÇA


Foi muito rápido

:o susto

O segundo fragmentado

Em que o mundo parou

Senti a tragédia

Que se abatera

No meu ventre

Antes túmido de esperança

E agora murcho de dor

A boca aberta

O grito sufocado

O som parado no ar

Meu filho

Pobre anjo torto

Arremedo de gente

Olhava pra mim

Pedindo desculpas

Qual lâmina afiada

A dor lancinando meu peito

Peguei-o nos braços

E nos reconhecendo no infortúnio

Juramos um ao outro amor eterno

sábado, agosto 18, 2007

INSPIRADÍSSIMO JOSÉ MAYER

Está em cartaz no Teatro Villa-Lobos, a peça UM BOÊMIO NO CÉU, estrelado por José Mayer, com direção de Amir Haddad. A peça é uma das melhores coisas que já vi na minha vida. Mayer está inspiradíssimo, beirando a genialidade. Canta, dança, representa e nos encanta com a doçura que emprestou ao seu personagem. De arrepiar. Seus diálogos com Antônio Pedro, outro ator extraordinário, é da gente prender o fôlego pra não perder uma vírgula. O texto é engraçado, lírico e altamente poético. A montagem anda tem Eichabuer no cenário, Aurélio na iluminação e Biza nos figurinos, gente que já está ai nos brindando com qualidade há várias décadas. Fico pensando no quanto a televisão castiga seus atores, com textos bobos e interpretações pífias, a maioria das vezes. É no teatro o verdadeiro habitat do ator. Mayer é um ator vigoroso, voz impecável, carisma extraordinário, enfim um criador de se tirar o chapéu. Mais teatro, compadre. E obrigada por aqueles momentos tão deslumbrantes.

terça-feira, agosto 14, 2007

MILTON HATOUM E CINZAS DO ORIENTE

Todo mundo que lê o meu blog, e não são muitos, já sabem da minha admiração por este escritor amazonense de raízes libanesas. Devorei toda a sua obra com um apetite de adolescente. Terminei agora Cinzas do Norte, um livro amargo sobre a história de Mundo, pela ótica de seu amigo Lavo. As relações familiares complicadas do personagem principal na Manaus de pós guerra, dando adeus aos últimos dias da boa-vida extrativista puxando o fio da meada à uma vida efervescente no Rio, Londres e Berlim, mas tudo isso com uma previsão catastrófica de tragédia. É um belo livro, como disse amargo, mas muito profundo onde as relações são doídas e incompreendidas. Amo Hatoum. No meio desse amargor, há sempre lirismo na sua escrita.

JOÃO GILBERTO NOLL- O CEGO E A DANÇARINA

Ah , sou encantada com os nossos escritores. Sint0-me abençoada por estar trabalhando de novo na Biblioteca Estadual. A relação foi difícil no início, devido à pobreza do lugar, desconforto e falta de infraestrutura até para desenvolver um trabalho legal. Minha tarefa é atender ao público no amplo e imundo Salão de Leitura, cheio de infiltrações e quente como um forno crematório, e como o público que atendo é mínimo, e ainda mais em tempos de internet de fácil acesso, sempre dá para ler, e muito. E estou aproveitando. Não quero outra vida até me aposentar, o que hoje até duvido que possa acontecer no período que eu vinha contando pelos dedos. O salário miserável vai me obrigar a permanecer naquele prédio medonho que me assombra todas as vezes que entro na garagem e olho para aquele livro aberto saído da cabeça do Darcy Ribeiro. E por conta disso cheguei até João Gilberto Noll, gaúcho como os Veríssimos. O Cego e a Dançarina é um livro de contos curtos interessantérrimos, cada um melhor do que o outro. Não deixem de ler esse autor. É um show.

sexta-feira, agosto 03, 2007

SOBRE VÔOS E PONTES

Acompanho as notícias sobre esse trágico acidente da TAM e fico pasma com tudo que leio. Até agora não se chegou a nenhum veredicto. Mas uma coisa é mais claro que água. O Ministro José Viegas já havia alertado sobre possíveis acidentes no espaço aéreo brasileiro e o governo deixou de investir na infraestrutura aérea. E ainda reduziu a verba. E deu-se o caos. Leio hoje que a mesma coisa aconteceu no EUA. Fontes autorizadas alertaram o governo sobre rachaduras na ponte que desmoronou. Lá também faltou investimento na infraestrutura. Cruzes, tanto lá como cá estamos à deriva. Segurança do povo, tanto no ar como no solo não é prioridade governamental. O que seria então?