O PIRULITO

Sexualmente carente, teve calafrios de prazer ao ver aquela gorda monumental espremida num legging e frente única, passar a língua, devagarzinho, no pirulito de framboesa, entrar no ônibus e se sentar ao seu lado. Ficou indócil. Não queria perder um segundo da ação. Começou a suar frio, enquanto seu membro inchava, a cada lambida dela. Ela, distraída, não dava pela aflição do rapaz. E toca de lamber o pirulito. O tormento do rapaz, ao invés de passar, prosseguia. Mexia-se, puxava a camiseta para baixo, fazia de tudo, mas não conseguia tirar os olhos do movimento labial da mulher. Com medo de passar vergonha, num gesto rápido, tirou o pirulito da boca da moça.

- Perdeu, perdeu.

E, feliz, com o pirulito na boca, seguiu viagem.

Comentários

Anônimo disse…
Hoje achei um tempinho Alice.
Tá ótimo o Blog. Tomara que ele e outros consigam ser um gatilho para imprimir alguma boa mudança nesse já completamente desesperançado Rio de Janeiro.

Beijos. Feliz NAtal.

TRE condena Maia por blog do Pero Vaz
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Rio - O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) manteve sentença contra o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), por veiculação do blog Pero Vaz de Caminha, pela Internet, com críticas ao candidato do PMDB a governador, Sérgio Cabral.

O TRE considerou Maia responsável pelo blog e manteve a multa de R$ 10 mil por dia pela manutenção da página no ar. O pefelista poderá ainda ser acusado de crime eleitoral por calúnia e difamação contra Cabral. O prefeito disse, por e-mail, que vai recorrer. “Decisão da Justiça se cala e se recorre”, disse Maia.


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Marilene Felinto

O homem mais alto do mundo e os homens mais gordos da televisão

Numa sociedade regida por princípios quantitativos, o realismo
numérico é ferventado a todo instante pela mídia (para usar uma idéia
do crítico Fábio Lucas). A televisão, por exemplo, é povoada por
elementos, indivíduos e situações inspiradas nesse princípio dos
"recordes" numéricos (de peso, de altura, de distância, de velocidade
etc.). Basta analisar a coleção de homens obesos ou quase obesos que
desfila por telejornais e programas de "entretenimento" nas redes de
televisão nacionais: Faustão e Jô Soares são apenas espécimes
clássicos (da Rede Globo). Seguem-se a eles Datena e Gilberto Barros,
da Rede Bandeirantes, e Luciano Faccioli, da Rede Record, para citar
os que mais aparecem. Como profissionais (do jornalismo ou do showbiz,
que uma coisa aqui já não se dissocia da outra) são mais ou menos
medíocres, e tudo indica que aparecem mais pelo excesso de gordura do
que pelo "serviço" que prestam.

Outro dia, no início de novembro, juntaram-se numa única cena – algo
grotesca – o apresentador Jô Soares, que se vende corporalmente na
mídia como "o gordo", e o chamado "homem mais alto do mundo", assim
apelidado por uma dessas bíblias da imbecilidade contemporânea, o tal
"livro dos recordes" ou Guinness World Records. Nada sobraria do que
teria sido uma entrevista do apresentador com o tal homem mais alto do
mundo, o chinês Xi Shun, 55 anos e 2,36 metros de altura: Jô Soares,
por meio de sua veia cômica de baixa extração, não fez outra coisa
senão ressaltar, a golpes de sensacionalismo, o ridículo a que estavam
expostos o homem gigante, mercadoria do Guinness que perambulava mundo
afora divulgando a tal bíblia e um tal "Dia Mundial dos Recordes" (9
de novembro!) e ele próprio, "o gordo".

Nada de interesse foi perguntado ao chinês na pseudo-entrevista: se
sua altura insólita era coisa de família, questão de genética, se seus
parentes eram igualmente altos, se a altura lhe causava algum problema
físico (que explicasse a bengala que usava, por exemplo). Na
entrevista onde tudo era falso – o chinês, que não falava uma única
palavra em português e dependia de uma intérprete, permaneceu o tempo
todo alheio às piadas de mau gosto do apresentador –, sobressaíam a
deformidade apenas, as formas distorcidas do espetáculo grotesco.
Afinal, no universo do grotesco, destaca-se aquilo que se presta ao
riso ou à repulsa por seu aspecto inverossímil, bizarro, estapafúrdio
ou caricato. Trata-se da visualização do monstruoso, do insólito, do
ridículo, do extravagante e do kitsch.

Por que se exibem tantos homens gordos na televisão se não por isso,
se não como elemento da espetaculosidade banal que configura este meio
de comunicação cheio de falsas sugestões? Não seria mera coincidência.
E não se trata de os gordos estarem na contramão da vocação narcísica
sob a qual o sentido da vida é buscado, na esfera estética, na beleza
produzida nos laboratórios, nas academias de ginástica, nos regimes de
alimentação e nas cirurgias plásticas. Não – trata-se da mesma vocação
ao inverso. Trata-se, além do mais, de um reforço no ideário machista
de que homem pode ser qualquer coisa, fazer qualquer coisa e aparecer
de qualquer jeito: até mesmo como o "gordo" grotesco. Ora, por que não
se exibem mulheres balofas na televisão, nos telejornais, nos
programas de "variedades"? Pelo motivo óbvio de que está consumada no
mercado de mídia a idéia de que mulher é objeto sexual e tem,
portanto, que aparecer como tal – quando não anoréxica e bulímica, os
quase-cadáveres dos desfiles de moda.

Este comentário não tem nenhuma intenção preconceituosa contra gordos.
O que se diz aqui é que a presença específica de homens obesos nas
redes de televisão nacionais tem a ver com o fato de a imagem gorda
deles combinar com a concepção de "consumo" e "devoração" em que se
funda a mídia hoje – "devorar" no sentido mesmo de destruir rápida e
completamente, de apoderar-se, de usurpar.

É antes por seu peso e tamanho físico que o apresentador-jornalista
Luciano Faccioli, da Rede Record, é homem de televisão. Não é por
excelência profissional. No telejornal matinal São Paulo no Ar, o
apresentador dá um show de obviedade piegas nos comentários e análises
descabidas do noticiário que apresenta. Para não falar da
espetacularidade perversa operada por Datena (Brasil Urgente, Rede
Bandeirantes) à custa da exploração da violência no universo das
classes pobres. Para não falar de outra nulidade chamada Gilberto
Barros (Boa Noite Brasil, Rede Bandeirantes).

Num conto antológico e genial chamado "A Menor Mulher do Mundo" (em
Laços de Família, 1960), a escritora Clarice Lispector esgotou essa
característica de apropriação devoradora da mídia que transforma
pessoas em exóticas notícias de jornal ou televisão (como Jô Soares
fez com "o homem mais alto do mundo").

A narrativa de Clarice vai apresentando o processo de "devoração" de
que é vítima a personagem "Pequena Flor", a menor mulher do mundo,
descoberta "nas profundezas da África Equatorial" pelo explorador
Marcel Pretre. "No Congo Central descobriu realmente os menores
pigmeus do mundo. E (...), entre os menores pigmeus do mundo, estava o
menor dos menores pigmeus do mundo." Era uma mulher, que estava
grávida, e a quem o explorador apelidou de "Pequena Flor": "Marcel
Pretre defrontou-se com uma mulher de quarenta e cinco centímetros,
madura, negra, calada". Todo o conto é a expressão do contraditório
sentimento de amar sem devorar nem ser devorado: "E então ela estava
rindo (...). E ela continuou fruindo o próprio riso macio, ela que não
estava sendo devorada. Não ser devorado é o sentimento mais perfeito.
Não ser devorado é o objetivo secreto de toda uma vida".

Primeiro conta-se como a raça de Pequena Flor estava sendo aos poucos
exterminada, a devoração real: "Sua raça de gente está aos poucos
sendo exterminada. (...) Os bantos os caçam em redes, como fazem com
os macacos. E os comem. Assim: caçam-nos em redes e os comem. A
racinha de gente, sempre a recuar e a recuar, terminou
aquarteirando-se no coração da África, onde o explorador afortunado a
descobriria".

Num segundo momento, Pequena Flor é vítima de uma devoração simbólica:
a de seu aparecimento num veículo de imprensa. "A fotografia de
Pequena Flor foi publicada no suplemento colorido dos jornais de
domingo, onde coube em tamanho natural. Enrolada num pano, com a
barriga em estado adiantado. O nariz chato, a cara preta, os olhos
fundos, os pés espalmados. Parecia um cachorro." Pequena Flor é então
vítima da reação da gente gorda que a vê no jornal e quer também
comê-la, apoderar-se dela, usurpá-lá. Em uma casa, um menino leitor
diz à mãe perplexa diante da foto da menor mulher do mundo:

"– Mamãe, se eu botasse essa mulherzinha africana na cama de Paulinho,
enquanto ele está dormindo? Quando ele acordasse, que susto, hein! Que
berro, vendo ela sentada na cama! E a gente então brincava tanto com
ela! A gente fazia ela o brinquedo da gente, hein!"

Marilene Felinto é escritora.

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