O livro tem 431 páginas, e mais umas 50 de bibliografia, pois bem, li quase de uma vez só. Mérito de Ruy Castro e da temática abordada. O sub-título é A História e as histórias do samba-canção, e abrange um período de pelo menos uns 20 anos. Pelas páginas do livro desfilam personagens artísticos e jornalísticos, todos muito conhecidos por todos os brasileiros, graças ao rádio e a imprensa.
Ruy desenha a história do samba-canção como a própria história da cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, e sem parece saudosista, ou quem sabe até sendo, uma cidade cheia de glamour, onde sair à noite e andar pela orla marítima um prazer sem sobressaltos. E nem vou falar na delícia que era ir à praia na década de 50 e 60, antes do túnel Rebouças. O que hoje é praticamente impossível, ir à praia e andar pela cidade sem sobressaltos.
O auge das boates na década de 40, com o Vogue do barão Stuckart no comando, onde, como o autor mesmo cita, numa mesma noite sentavam-se os maiores fortunas do país. Desfilavam por lá, as mulheres mais lindas, caprichando no vestuário, todas de longo e os homens de smoking. Outros tempos. Eram caras, a classe média nem pisava porque não tinha cacife pra gastança, e onde cantavam as melhores vozes do Brasil, e onde a transformação desse gênero de música, tão caro aos brasileiros, foi mudando para uma outra temática, sem deixar de ser samba-canção.
O que me fascinou foi o fato de que embora nascida em 44, acompanhei muito bem a história do livro, conhecia seus personagens, muitas das histórias, lia Antonio Maria, Stanislaw Ponte Preta, e posso dizer que a minha geração já nasceu querendo ouvir outras vozes, outra batida, que não fosse Dalva, Nelson Gonçalves e aquela turma do gogó. Cresci vendo Elizete, a Divina envelhecer, e ouvi Agostinho dos Santos emprestar seu vozeirão em várias canções de Tom Jobim. Era encantada com Dorival Caymmi, reconhecia sua genialidade ao longe, enfim, e Vera Lúcia Ferreira Maia , filha de Nora Ney era minha colega de Mello e Souza, assim como Nelita, uma das mulheres de Vinicius, e Tania Sherr, que era uma menina linda com uma carinha bem travessa.
Lendo o livro revivi um passado do qual muito me dá prazer. A narrativa é gostosa, o revival dos fatos muito bem encaixados, vale muito a pena se debruçar neste livro tão gostoso.