domingo, julho 29, 2007

CRÔNICA DE UM DOMINGO CHUVOSO




O dia amanhece gelado. Geladíssimo, em se tratando de uma cidade tropical. Minha garganta, de novo, dá sinal que precisa de cuidado, mas eu tenho que sair com o Rex. O cachorro precisa das caminhadas diárias, como eu também, para digerir as calorias em excesso, principalmente em dias como esse. Vestimos capas de chuva e lá fomos em direção ao Mundo Novo, de cujo ponto mais alto se tem uma vista deslumbrante de Botafogo. Eu ia pensando nas mudanças climáticas que ocorrem no planeta e no quanto isso vem afetando o clima. Amigos viajantes se queixando do calor em Praga e em Budapeste e gente morrendo de calor na França e na Espanha. Onde isso vai parar?Daqui a pouco vai nevar no Rio de Janeiro. Mas talvez isso não seja para a minha geração. Meus netos, quem sabe? Recolho os sacos plásticos que encontro pelo caminho e constato a sujeira que deixamos nas nossas calçadas.
O caminho é bonito e sem trânsito aos domingos. Subo a ladeira, observando as árvores e me deixando inebriar por um cheiro de eucalipto. Meu cachorro, em perfeita sintonia com o ambiente, vai ao meu lado sem puxar a coleira, cheirando e deixando rastro pelo calçamento irregular.
A comunidade é pobre, mas bastante limpa e ordeira. Vi pessoas varrendo a entrada de suas casas, nenhum papel ou lixo no chão, e o que mais me chamou a atenção foi a música, bem alta, não a ponto de incomodar o vizinho, mas bastante audível a quem passasse. Ouvi Bethânia e outros que não conheço. Canções que embalavam pessoas que acordavam que tomavam café ou, quem sabe, faziam amor? Com um tempo desses, ficar na cama é uma boa pedida. No meio do caminho uma espécie de coreto. Minha imaginação flui olhando a tosca construção. Bailes semanais, políticos fazendo promessas mirabolantes, casamentos? Um altar de uma santa qualquer cravada na rocha, também me chamou a atenção. Havia velas e alguns votos. A comunidade tem fé na santa. Num vão, entre o coreto e o altar, motocicletas adormecidas cobertas por uma lona. Várias, numa ordem de dar inveja. São dos moto-boys, moradores da comunidade. Ganham uma graninha subindo e descendo, faça sol ou chuva eles defendem o seu. Um senhor varreo coreto. Pergunto as horas. Surpreendo-me. Estou andando há bastante tempo. A chuva cai mais forte, intermitente. Cubro a cabeça e maldigo o tempo, a roupa já mostrando os resultados. Rex marcha impávido, senhor da calçada, alheio à chuva. Um cachorro late à sua passagem, do alto de um muro enorme. Grito pra ele. Rapaz, não te meta à besta, a altura é grande. Mas ele nem liga, os latidos são para o Rex, que olha pra cima e nem se digna a dar um latido sequer. Continuo a caminhada e paro numa clareira em que se avista a cidade. Que coisa mais linda. A névoa paira sobre o dia cinzento. Nem a chuva nem o frio tiram a beleza do que vejo. Mas todo o cuidado é pouco. Passos desavisados me levarão ao Santa Marta, que fica do ladinho. Mas que inveja de seus moradores pela vista que têm.
Volto em baixo de chuva. Espirro e começo a tossir. Nada de licor ou de conhaque. Me entupi de antibióticos e rezei pra que a gripe passe longe dessa vez.

CRÔNICA DE ANIVERSÁRIO

Ontem estava deprimida, mas hoje acordei legal. Dizem que é comum se sentir meio triste, antes ou até no dia do aniversário. É a tal da conjunção astral. Arhhhhh!
A tristeza de ontem se deveu a morte de um parente e ao acidente da TAM. Foi tão de repente que não me deu nem tempo nem de pensar. Só fui me lamentar e chorar horas mais tarde quando tudo já estava resolvido. Apesar de relativizar sobre a morte, a verdade é que quando ela chega nunca estou preparado para recebê-la, só o morto está. Nós todos ficamos à deriva, chorando e lamentando a perda da pessoa querida. E duvido quem não pense em si mesmo, ali naquele caixão, algum dia. Por isso não estava bem na antevéspera do meu aniversário.
Convalescendo de uma virose que me derrubou, tudo que eu queria era passar longe das comemorações de praxe. Mas quem resiste? O dia é par, redondo, o mês é de férias, e pra mim, iluminado. Lembrei-me dos meus amigos, gente que me acompanha há tanto tempo, lembrei também dos que já foram, e um calorzinho começou a esquentar o meu coração. Não comemorei no dia. Fiquei em casa, atendi os telefonemas, fui trabalhar e fiquei feliz. Nos dias subseqüentes vi meus amigos, uma amiga me ofereceu um jantar.
Trilho meu caminho com passos fortes, às vezes tropeço, caio, me levanto e sigo em frente. Adoro o dia do meu aniversário, sou bem sincera e acho que todo o mundo devia também adorar. Falo isso porque sei de gente que não gosta e passa ao largo. Posso estar sozinha, mas festejo com a alegria da criança que ainda habita em mim.

ANA PAULA MAIA E A GUERRA DOS BASTARDOS


Ana Paula é carioca e tem 30 anos. E é fantástica. Dona de um senhor estilo (li de um fôlego só )A Guerra dos Bastardos é altamente cinematográfico e fiquei pensando no que Quentin Tarantino faria com ele. O livro é sanguinolento com um desencadeamento de fatos surpreendentes. Mas a prosa de Ana Paula é tão boa que apesar das náuseas que o texto provoca, eu aplaudia a todo o momento a genialidade e o talento dessa escritora já tão pronta. Não recomendo o livro para estômagos fracos, mas pra quem aprecia o gênero, Ana Paula é opção A.

domingo, julho 15, 2007

Ó COMENTÁRIO DE CÉSAR MAIA SOBRE AS VAIAS AO PRESIDENTE LULA

Foi ridícula, para não dizer patética a explicação do prefeito em relação às vaias ao presidente Lula. Chegou até a falar da mão suada de Lula e do fato dele ter saído logo após as vaias. O comentáro expelia veneno, ironia, deboche. Começou dizendo que "o carioca atribui ao Lula a pretensão de tirar do Rio e dar caráter federal aos Jogos Pan-Americanos." Será? Tenho as minhas dúvidas. Eu nunca torci pelo Pan porque acho que com esse dinheiro muitas coisas poderiam ser feitas por aqui- obras de infra-estrutura e conserto nos hospitais públicos. Essa briguinha entre os três níveis de poder pode ser até marketing jornalístico, não? A imprensa também mostra um lado marrento pra poder vender. César também não gostou do presidente não ter assistido a toda a cerimônia. Tudo bem, mas porque fazer o comentário? Pra ficar por cima? Babaca. Diz ainda que avisou ao Nuzman que o Lula poderia ser vaiado e que não deram importância. E termina dizendo " em alguns anos mais, vamos lembrar que show mesmo foi aquele em que o Lula levou seis vaias." O povo dessa cidade não prima pela educação e nem pela civilidade e ainda lendo o que fala este homem é sopa no mel. Tô fora. Nem César, nem Lula, nem coisa nenhuma. O ideal mesmo é que a platéia se mantivesse calada na hora que o nome do presidente Lula fosse anunciado. Talvez fosse mais forte do que a vaia. Mas issos é exigir muito de um povo como o nosso.

quarta-feira, julho 11, 2007

UM HOMEM CHAMADO MARIA

Acabei de ler "Um homem chamado Maria" de Joaquim Ferreira dos Santos, e me dei conta que o genial jornalista, cronista compositor e tudo o que ele foi, me influenciou bastante naquilo que escrevo hoje. Não que eu seja um Maria de saias, não, mas o jeito carioca de escrever acho que vem dele, e muito. Eu adorava ler a sua coluna de jornal, a mesma coisa com Nelson Rodrigues no A Vida como ela é, e ler o livro foi relembrar bastante o Rio de Maria que era um pouco o meu também e verificar com tristeza o quanto a cidade mudou. Maria fez falta, e realmente foi um cara que viveu intensamente, tão intensamente que o coração não agüentou. O perfil que Joaquim traça é primoroso, uma delícia.

terça-feira, julho 03, 2007

MINHA OPINIÃO SOBRE OS FATOS VIOLENTOS DE AGRESSÃO QUE OCORRERAM PELA CIDADE

Foram muitas as considerações sobre as gangues de jovens de classe média que saíram dando pancada em mulheres, homens e quem se pussesse na frente deles. A imprensa, como sempre, cobre o fato exaustivamente dias seguidos, mas o interessante é ler as cartas dos leitores. Desde a morte de João Hélio, que remete ao índio Galdino, etc. e etc. também refleti sobre o acontecido e tenho as minhas opiniões. A cidade se enjaulou. Principalmente na Barra da Tijuca, onde os condomínios são imensos, dando todo o conforto para os seus moradores. Me lembro de ter lido, há algum tempo atrás, uma reportagem enorme na revista Veja sobre o comportamento abusivo da juventude em determinados condomínios. Foi de estarrecer- orgias regadas a droga e todos entre 14, 15 até 19 anos. Muito sério. Com a violência urbana no nível que está, com a ausência de parâmetros tanto dos pais quanto das autoridades, droga, o desfacelamento da família, corrupção grassa, falta de educação familiar, educação acadêmica falha, justiça inexistente, um país onde quem tem privilégio é o rico, é de se esperar o quê? Explosões onde a moçada tenta resolver os seus problemas na base da porrada, sabendo que não vão ser presos nem julgados. e se forem, rapidinho sairão da cela. Os exemplos estão todos aí.

segunda-feira, julho 02, 2007

NÃO TORÇO PARA O PAN E NEM VOTO NO CRISTO

As Cartas dos Leitores do jornal O Globo são ótimos indicativos de como pensa o carioca que lê e está antenado com o que ocorre na sua cidade, no país. Hoje dois leitores se manifestaram contra o Pan e contra a votação do Cristo. E eu concordei com eles. Transito pelo centro da cidade e eveywhere e estou horrorizada com o estado das ruas, da falta de educação do povo, na ausência de policiamento, nas multidões atravessando as ruas sem olhar para os sinais de trânsito, e por aí vai. Hoje vi dois caras de bicicleta trafegando na direção contrário aos carros, um na Presidente Vargas e o outro em frente do Rio Sul saindo do túinel.Em pleno rush. Nunca vi isso em lugar nenhum do mundo, nem na Índia.Botafogo está imunda, cheirando a fezes e urina, buracos imensos nas calçadas, enfim uma cidade de quinta categoria. Ouvi ontem no rádio que o número de turistas no Brasil diminuiu este ano. Pudera, fora o Pantanal, Bonito, e o turismo sexual no nordeste, não sei bem o que pode atrair visitantes. Violência, assaltos à mão armada, balas perdidas?

A SENHORITA JÚLIA DE HEDA GABLERE FEDERICO GARCIA LORCA

A montagem desse clássico de Ibsen optou por uma Heda leve e entendiada. Pelo menos foi o que passou para mim. Christine Fernandes é bonita, fluídica e fala o texto muito bem. Claro que nem vou discutir o talento, pois é óbvio numa pessoa que já excerce a profissão já algum tempo. Mas quem dá o recado, e muito bem, é a atriz Vera Fajardo, comadre querida, que faz uma senhorita Júlia bem-humorada, risonha, com nuances no texto, enfim, uma tia que todos nós gostaríamos de ter. Acho que Heda Gabler não faz nem pensar. É tão distante do que o mundo é hoje, que não dá nem para refletir. Gosto do teatro que fala à alma de problemas universais sociais identificados por alemães, brasileiros, italianos, etc. Ou adaptações para a nossa realidade: Gôta D' Àgua foi uma magnífica transposição da tragédia Medéia para morros cariocas e a Ópera do Malandro, outra jóia de Chico, baseada na Ópera dos Três Vintéins de Brecht (devo essas lembranças ao meu amigo Iran, numa conversa que tivemos após o espetáculo de Antonio Gilbert0- Federico Garcia Lorca). Já o Lorca é um monólogo enxuto e ótimo, de excelente nível artístico bravamente defendido por José Brandt. O que ele fala da poesia, da literatura é tão maravilhoso que toca a alma. É poesia pura.

domingo, julho 01, 2007

O DINHEIRINHO ABAIXO DO PANO NA BIBLIOTECA ESTADUAL

A chefe dá dinheirinho embaixo dos panos para o funcionário que fez um trabalho qualquer na Biblioteca. Só que ele é pago pelo poder estadual para isso, mas ela achou de molhar a mão dele. Fiquei feliz porque ele recusou. Íntegro, disse que estava ali para trabalhar para a Biblioteca. Pano rápido.

O PODER PARALELO NA BIBLIOTECA ESTADUAL

A Biblioteca Estadual está condenada e até o secretário de cultura sabe disso, pois foi ele que em alto e bom som falou pra quem quisesse ouvir. Mas há um fato que me deixou revoltada. O entorno da Biblioteca é cercado por grades e a camelotagem que fica na Praça da República usa o interior da Biblioteca como depósito de suas tralhas. O pessoal do apoio já levou ao conhecimento da diretora, mas aparentemente nada é feito. Mas, uma conversa off the record com um funcionário antigo esclareceu o porquê de nada ser feito. Os camelôs depredariam a Biblioteca caso algum impecilho fosse colocado que impedisse a eles colocarem a tralha no interior da Biblioteca. Fiquei pasma. Eu mandaria erguer um muro alto como a greja ao lado, e queria ver o que acontecia. Não podemos ficar indiferentes a esse descalabro. Temos que enfrentar essa corja com autoridade e competência.

BICICLETAS EM PARIS

Li hoje no jornal OGlobo que o prefeito de Paris vai viabilizar bicicletas para o parisiense usá-las como transporte público. Há uma taxa contra roubo e haverá bicicletários próprios, onde o morador pega a biccleta no ponto perto de sua casa e a deposita no ponto mais próximo de seu destino. Legal, né? Você acha que há possibilidades de se fazer o mesmo no Rio? Ha-ha-ha....Respostas para esse blog.