Leio que as favelas do Rio aumentaram em cinco anos. Todos sabem que o futuro da cidade está seriamente comprometido com a favelização em torno. Todos sabem também que o Estado Do Rio de Janeiro não arrecada impostos suficientes uma vez que as grandes indústrias saíram daqui. A conseqüência é gente sem emprego, sem possibilidades de ascender economicamente, violência exacerbada, falta de civilidade, e a lista é longa. E ainda temos César Maia, que criminosamente se omite nas edificações da Rocinha, e faz vista grossa para os problemas urbanos da cidade. Deputados populistas no pior sentido que essa palavra possa ter, incitam moradores de uma recém favela surgida no Rio das Pedras (acho) a não abandonarem seus casebres e a afrontarem as forças públicas do Estado, em prol, sinceramente não sei de quê. Já para ao norte, ou melhor, acima do Equador, Nova York se revitaliza. O setor imobiliário tem novo boom e a classe média está deixando Manhattan e ocupando espaço em bairros outrora considerados pobres. A divisão entre Uptown e Downtown também está desaparecendo e o sul e norte da ilha vão ficando parecidos. E bem verdade que depois do 11 de setembro muita coisa mudou. Lugares que eram conhecidos por abrigarem drogados estão dando lugar a moradia de estudantes, a economia é forte e há três moradores da ilha concorrendo para Presidente: Hilary Clinton , Obama e Giuliani. Só tem que dar certo.
domingo, setembro 16, 2007
POR QUE SERÁ QUE O RIO NÃO SE DESENVOLVE?
A CHARRETE DA LEITURA
Que notícia mais alvissareira: no nordeste uma BRASILEIRA, Mônica Oliveira, professora da Escola Municipal João Francisco de Melo (Pernambuco, e imaginem a miséria de salário que deve ganhar) leva livros em cima de um jegue para a criançada, que mora no sertão, ler. A iniciativa está os motivando a escrever. Surgiram já pequenos poetas de dez e onze anos e uma menina que quer ser escritora. Ah, como fazem bem esses exemplos, num Brasil tão corrompido e injusto. Bravo Mônica.
quinta-feira, setembro 13, 2007
RENAN CALHEIROS, DÁ PRA ENTENDER?
segunda-feira, setembro 10, 2007
CENA VISTA DA JANELA
Estavam os dois na grande janela olhando o movimento da rua. Ela, senhora passada dos sessenta e ele um rapaz de não mais de vinte anos. Não eram parentes, não se conheciam, apenas resolveram desfrutar, quase que na mesma hora, a paisagem vista da janela, já que não tinham muito que fazer, naquele dia entediante de outubro.
O ar pesado prenunciava chuva. O calor fazia com que os passantes parassem para comprar água dos camelôs postados ali naquela esquina por onde passavam hordas de trabalhadores humildes. Carrocinhas de camarão fedorento, de milho, de cachorro quente empesteavam o ar. Homens sem camisa conversavam aos gritos e quando a bexiga incomodava, se aliviavam por ali mesmo. Ninguém ligava ninguém torcia o nariz. Os guardas municipais, em três na esquina, de costas para a bagunça, contavam os minutos para se apresentarem a corporação e irem para as suas casas em tempo de ver as novelas da Globo.
Silenciosos, a senhora e o rapaz continuavam olhando a rua. Tiveram a atenção despertada para dois meninos de rua, talvez quinze dezesseis anos, que acintosamente pediam dinheiro a todos que passavam por eles. Alguns davam outros não. Um deles, de modos efeminados, se requebrava todo e soltava gritinhos histéricos a cada trocado recebido. Juntos dividiam o camarão, o cachorro quente, o milho. A senhora e o rapaz continuaram mudos, mas os olhares convergidos para os dois pivetes. Os dois, depois de saciarem a fome, resolveram atravessar a grande avenida de quatro pistas. Foram se metendo entre os carros e só não foram atropelados por milagre. Continuaram vendo a cena, a senhora e o rapaz. A senhora resolveu falar:
- Que coisa, você viu? Não roubaram porque receberam uns trocados. Mas eu tenho certeza que assaltam, e com muita violência.
O rapaz concordou e perguntou, timidamente.
- O que a senhora acha que vai acontecer com eles?
- Vida longa, acho que não vão ter, não. Se não matarem a vítima serão mortos um dia pela própria polícia. Não vão durar muito não.
E a senhora e o rapaz olharam para a rua em tempo de ver os dois dançando na frente dos carros, alheios ao perigo, num mundo que só eles entendem como é.