UM CONTO
ADRIANO
O que me chamou a atenção foi ver aquele pai, mais parecendo avô, encantado com o filho que começava a andar. Estava saindo do meu prédio quando vi a cena e fiquei encantada. O pai, bastante orgulhoso de seu pequeno, incentivava os primeiros passos, “Vamos lá, Adriano, sem medo, vem que papai tá aqui.” O pequeno, a cara escarrada do pai, sorria embevecido, para a figura paterna e ensaiava seus passinhos com garra e determinação, com certeza, para agradar ao seu genitor. E os dois, de mãos dadas, esquecidos do mundo envoltos numa aura de ternura, que também a mim envolveu, foram seguindo pela rua em ritmo lento, e daquele momento em diante fiquei cativa daquele pai e do pequeno Adriano.
Adriano foi crescendo, meio desengonçado, as pernas compridas, porém conservou o ar ingênuo e puro no rosto do adolescente que teimava em não deixar a fisionomia da criança de ontem.
Nunca estava sozinho, ora era com a empregada, ora era com a mãe. Poucas vezes o vi com o pai, no entanto nas vezes que vi, percebi o orgulho paterno, a realização concretizada. Ver Adriano me deixava feliz, e acho que ele nunca entendeu porque eu sempre o cumprimentava, ele não me conhecia, quem o conhecia era eu, um conhecimento fugaz, mas que me impelia a dizer:
- Bom dia Adriano? Como vai Adriano? Vai para o colégio?
Ele respondia com um olhar de curiosidade. Sabia que ele queria perguntar.
- Você me conhece? É amiga de minha mãe? Como sabe que sou Adriano?
Sorria emcabulado, e a covinha do queixo sorria junto.
Vinha da ginástica e o vi passar, estava apressado. As pernas se entrelaçaram feito tesoura, ele perdeu o equilíbrio e foi ao chão, caindo para além do meio fio, um perigo. Todos viram. Não vimos o bólido aparecendo do nada, sibililando, marcando os pneus no chão, registrando presença. Mas alguém viu, e num passe de mágica Adriano foi arrastado pelo sapato da perna esquerda e milagrosamente salvo.
Adriano olhou para o seu salvador, a covinha do queixo querendo chorar enquanto os olhos assustados procuravam entender o que tinha acontecido. Me aproximei.
- Adriano, como estou feliz de você estar bem.
De novo, ele me olhou, a pergunta silenciosa que iria ficar sempre sem resposta. Confuso ainda, agradeceu ao seu salvador e o seu nome ouvido em diversos tons o fez sorrir como daquela primeira vez que o vi com seu pai, tentando os primeiros passos.
No dia seguinte vi Adriano com a empregada.
- Olá Adriano, vai para o colégio?
- Vou e já estou atrasado.
Sorri e segui em frente.
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