O FILME CORINGA E A REALIDADE BRASILEIRA NO MOMENTO

Joaquim Phoenix dá mesmo um show. Seu Coringa foi pensado milimetricamente. Cada passo foi coreografado, cada reação estudada, a insanidade de sua risada praticada, o ator atingiu sua maturidade artística num trabalho brilhante amealhado a cada ano, nos diferentes filmes nos quais atuou. Tudo no filme é genial, o roteiro, a direção, a trilha musical e o desconforto provocado nas  inúmeras cenas de violência, que me remeteram ao país em que vivo. 
Uma das primeiras cenas do filme, o palhaço está na rua com um cartaz de publicidade da loja em frente. Passa um bando de rapazes, rouba o cartaz, e sai correndo. O palhaço vai atrás deles, e lá pelas tantas, em desvantagem, é abatido pelos delinquentes e leva uma surra daquelas. Primeiro incômodo. No país em que vivo esta cena é bastante corriqueira. Dói muito, pessoalmente não tolero agressão física, nem em humanos e nem em bichos. O palhaço sofre, e daí para a frente começamos a ver que ele não é um tipo mentalmente saudável. Seu trabalho lhe rende pouco ou nada e ainda é humilhado pelo patrão e por um dos colegas. Tal e qual no país em que vivo, onde todos somos humilhados, seja por quem nos governa, quem nos representa no parlamento, nas milícias que controlam bairros mais pobres, nos traficantes que controlam os morros, onde policiais e traficantes travam uma guerra, onde crianças são mortas diariamente, pelo menos no Rio de Janeiro - fato noticiado pela imprensa escrita e falada. 
E ainda vemos, sentados confortavelmente, a progressão do instinto assassino tomando vulto na personalidade estranha do Coringa. Ele não era mau, aparentemente, cuidava da mãe, não fazia mal aos outros, e com o desenrolar da história, ele ganha fôlego, ganha uma arma dada por um colega maldoso, custa a usá-la, mas a leva consigo, como um amuleto. E numa cena determinante mata quem lhe ofende e humilha. Justiça ausente em tantos outros casos passados com ele, ele faz a sua própria. Mora em Gotham City, cidade fictícia e sombria, um lixo como está o Rio hoje - não sou eu quem diz, mas as fotos e a indignidade dos leitores frente ao descaso como é governada a cidade, provam isso. A decadência provoca uma série de fatores desagregadores em seus habitantes, como a falta de respeito e educação, violação de leis e ocupação desregulada do espaço público. Preenchem o vazio, políticos oportunistas e corruptos, milicianos, e traficantes. Sem falar nos grupos religiosos fundamentalistas e ignorantes que blindam seus seguidores. 
E para fechar a atuação cínica e hipócrita do político. Quantas coincidências.
Phoenix merece o Oscar sim. Não vi o filme protagonizado por Brad Pitt ainda, dizem que sua atuação também é magnífica.

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