DORIS LESSING- O SONHO MAIS DOCE
DORIS LESSING ARREBATADORA
O Sonho mais doce é uma leitura
deliciosa. Intensa, nos convida a conhecer a vida de Frances, Johnny e Julia
Lennox, uma família inglesa vivendo em Londres nos anos 60, que foi uma década
extraordinária sobre todos os aspectos: político, artístico e de início de
liberdade sexual. Frances, separada de John, vive na casa da sogra, Júlia,
alemã que ao casar com Philip Lennox muda-se para a Inglaterra. A casa dos
Lennox é uma propriedade sólida com vários cômodos e andares, e que no
desenrolar da trama, os filhos crescendo, incorpora novos hóspedes. A
habilidade da autora em dar vida a esse mundo de gente é comovente. Arguta, constrói
seus personagens com mão forte, desenvolvendo suas personalidades ao longo da
história. É uma saga, e abrange três gerações. Tive raiva de Frances, não
concordei com sua sempre extrema benevolência em abrigar gente hipócrita,
encostados, odiei Johnny, o babaca comunista, incapaz de enxergar com lucidez e vivendo às custas do partido (quantos aqui também) e Rose Temble, torcendo
para que fosse desmascarada e levasse uma lição, o que não aconteceu como eu
queria, claro. Me comovi com Sylvia, a
lourinha assustada, enteada de Frances, que na segunda parte do livro é a personagem
principal. Médica, muda-se para a África e então a história dá uma grande
virada. A África negra, corrupta, onde tudo falta, as doenças proliferam, a miséria é
tão grandiosa quanto o país enquanto os políticos devassos, corruptos fazem
fortuna e inflamam racismo nos habitantes em relação aos poucos brancos que
estão lá para ajudar. A AIDS prolifera nas aldeias e a sucessão de mortes é
assustadora. Valente, Sylvia luta como pode e no seu ato final consegue levar
seus dois jovens assistentes para Londres. Os garotos querem ser médicos.
Chamou-me atenção um fato que
não acontecia no Brasil, mas era comum na Inglaterra e nos Estados Unidos, pelo
menos é o que está no livro. As famílias que abrigavam os amigos dos filhos que
lá ficavam anos, e trazendo outros. Como uma república familiar. E os
verdadeiros pais não estavam nem aí. No livro inclusive, Frances abriga as
ex-mulheres de John, imagine se isso seria possível no nosso país. O livro é da
Cia. Das Letras, vale a pena.
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