Mais um brasileiro esquartejado por um carro. Todos se lembram do menino João Vitor praticamente esquartejado porque os ladrões do carro onde viajava com sua mãe foi assaltado e ela não teve tempo de tirá-lo de dentro do carro. Os ladrões fugiram com o carro e com o garoto parcialmente do lado de fora. Na época, a comoção foi enorme, os bandidos presos, e sinceramente não sei se já saíram da prisão. A justiça no Brasil não é lá essas coisas e é bem possível que estejam soltos.
Agora foi a vez da cidadã Claudia da Silva Ferreira, 38 anos, morta por bala perdida, posta no porta-mala de uma viatura OFICIAL, e arrastada pelo lado de fora porque a porta traseira se abriu. De novo a comoção popular, a revolta, o nojo por esses policiais de merda, desculpe pela palavra, e a certeza de que nada vai acontecer com eles. Quero estar errada, quero que o governador venha a público dizendo que as bestas foram exoneradas e estão presas. Não me ufano do meu país, como posso? A polícia militar para ter o apreço do povo tem que mudar radicalmente. Lembro que na época do governador Garotinho houve mudança do nível acadêmico exigido do cidadão para ingressar na polícia. Nivelaram por muito baixo. Tenho quase certeza porque trabalhava no cerimonial, mas faz tempo. Mas também pode ter mudado. Não me interesso muito por assuntos relativos à PM porque não se fazem respeitar, portanto... A PM tem que ser mesmo reestruturada. Os policiais tem nível acadêmico baixo, moram em comunidades, convivem lado a lado com bandidos, como se pode esperar atitudes respeitosas para com o cidadão se eles não vivenciam isso em suas casas? A polícia americana, dou esse exemplo porque canso de ver nos filmes, não atira no indivíduo, aqui é a primeira coisa que fazem. O governador Sérgio Cabral deve estar começando a entender porque seu nível de aceitação entre a população do estado caiu tanto. E outra coisa, cadê as benfeitorias propostas pelo secretário Beltrame para consolidar as UPPs? Caiu pelo barranco.
A reprise da novela Água Viva está chegando ao fim. Muitos anos se passaram, mas foi uma delícia rever. Participei num pequeno papel, tenho a consciência de que fiz mal, mas enfim pude saber do que se tratava. Na época não tinha tevê, trabalhava, fazia aulas de dança à noite, portanto não via a novela. Agora acompanho a trama. Conhecia bastante bem o Gilberto Braga, que era leitor da biblioteca onde trabalhava. Era um homem lindo, alto, com uma voz poderosa e terna e craque em francês e inglês.Ele dava aulas na Aliança Francesa. Conversávamos quando ele ia à biblioteca, e depois ele passou a crítico de teatro, na época em que eu me interessava pela arte de representar. Ele viu as minhas peças, criticou favoravelmente e eu me senti à vontade para lhe pedir um papelzinho na novela que ele fosse escrever. Ele já tinha começado nesse ofício. Surgiu a babá poliglota Cristina de Água Viva. Pois bem, como disse, acertei algumas vezes no tom, e na maior parte das vezes o que saía de minha boca entrava em contraponto com o que meus olhos diziam. Um desastre, além do meu tamanho ter simplesmente dobrado na tela. Outra coisa, sempre aparecia com os olhos baixos, porque os atores com quem contracenava estavam quase sempre sentados. Paulo Ubiratan e Talma se lixavam para atores secundários. Mas hoje vi meu pai, falecido há muito tempo, fazendo uma ponta na cena onde entram advogados para abrir o testamento de Miguel Fragonard, personagem vivido pelo saudoso Raul Cortez. E fiquei pasma com a figura simpática do meu pai, conservado nos seus 60 e tal anos, e com sua presença em cena. Muito melhor do que a minha, que acho que era nenhuma. A naturalidade espantosa para um mero figurante é de arrepiar. Fiquei de queixo caído, e também com muita saudade. Gosto de muita coisa na novela, a abertura é solar, a trilha musical maravilhosa e alguns atores dando show. Me deu saudades da Lucélia Santos, um pequeno furacão em cena, e acho que já falei da presença luminosa de Fábio Jr. Como era boa a Eloísa Mafalda, meu deus, a atriz não perdia uma palavra, muito menos ponto e vírgula. E várias outras boas cenas e outras nem tanto. Mas valeu, amanhã vou rever meu pai mais uma vez. Quem diria, ele, um mero figurante, eternizado na novela da Globo.
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