BORGEN, uma série diamarquesa com foco político
Tive a sorte de ter tido pais que amavam ler, ouvir boa música e amarem cinema, portanto desde sempre fui exposta a essas três maravilhas, e sou apaixonada pelas três. Não vivo sem um bom livro, boa música e cinema. Em Tempos de hoje a Netflix, Amazon Prime, Now, e tantas outras nos proporcionam um leque imenso de variedades, de filmes a documentários e de qualquer parte do mundo. E eu mergulho nesse mundo com muita satisfação. Majoritariamente todas as produções são muito boas, e me pergunto por que a GloboPlay é tão cara? Ainda mais para quem é assinante de uma das mídias da grande Rede. Bem, não vem ao caso.
Aprende-se muito sobre costumes e comportamentos de outros povos quando se assiste a um filme escandinavo, por exemplo. Rita, um filme sobre o cotidiano de uma professora dinamarquesa me mostrou como funciona um escola pública na Dinamarca, e eu babei de inveja. Um approach moderno, limpo e arejado com uma didática totalmente diferenciada nos faz ver porque eles são tão bem sucedidos. Estou exagerando? pode até ser, porque ando mesmo com complexo de vira-lata. E sei que o que vi é cinema e não a realidade nua e crua, mas para uma pessoa atenta como eu dá para e ver e refletir em confronto com a realidade brasileira. E saímos perdendo, tá?
Borgen é outra série excelente, com foco na política dinamarquesa. Borgen é o parlamento, e a história de desenvolve em torno da Primeira Ministra, sua vida política e familiar. Para mim foi muito interessante assistir à série e ler o jornal Globo no dia seguinte. O povo de maneira geral é muito semelhante, claro que o desenvolvimento acadêmico, social e financeiro de um país é determinante no desabrochar das mentes, e nisso estamos secularmente atrasados. Duvido mesmo que uma mente esclarecida e desenvolvida brasileira seja a mesma de um par escandinavo. Ficamos sim, para trás em algum momento. Sei que é cinema, volto a dizer, mas o roteiro escrito por um nativo da terra sempre retrata o que ele vive no seu país, e por isso digo que há sim há diferenças extraordinárias. Por exemplo, Bolsonaro, Mourão, Augusto Heleno que representam o agora no Brasil não existiriam em terras dinamarquesas. A boçalidade de um Crivella ou a arrogância suburbana de um Witzel então, nem se fala. E não faltariam exemplos, que por si só encheriam várias páginas, portanto fico nesses.
Ver uma ex PM (Primeira, o, Ministro,a) andar de bicicleta para ir ao trabalho e as ciclovias largas e cheias com mulheres de salto ou vestido e até mesmo casacões me fez sorrir, quando a gente sabe que nem nas ciclovias brasileiras você está a salvo de ser atropelado. Não vi faxineiras, mas jovens au pair, que é o habitual na Europa, funcionando como baby-sitters.
Um comentário sobre o aborto também mostrou o atraso brasileiro, quem não lembra dos fanáticos bolsonaristas-evangélicos, uma pesada combinação, na porta do hospital quando do aborto judicialmente permitido da criança de 10 anos? E pior, da equipe médica do primeiro hospital a que foi? Pois é, minha gente, lá nem se discute, quem decide é a mulher se quer ou não quer fazer o aborto. Enquanto se perde tempo e energia com esse assunto, lá nem chega a ser uma questão. Nesse ponto, sou escandinava. Ninguém decide sobre o meu corpo.
Outra questão saída da boca de uma filha de imigrante muçulmana sobre políticas imigratórias. Em alto e bom som ela se diz totalmente contra a imigração descriminada. Ela diz que tem que se filtrar quem entra no país sim, que não pode entrar qualquer um até por questões de segurança. Imediatamente me veio a lembrança quando os venezuelanos desembocaram em Roraima, enquanto os ricaços foram para a Flórida. Imigração hoje em dia é muito delicado. Vemos todos os dias embarcações precárias à deriva no Mediterrâneo lotadas de imigrantes desesperados querendo chegar na Itália ou Grécia. Mas, qual o futuro deles, sinceramente? Engordarão as fileiras dos menos favorecidos, vivendo a margem, sem acesso a nada, como já acontece, e claro aumentando a violência, pois quem tem fome é capaz de tudo. Não seria bem melhor ajuda maciça em seus países para que se desenvolvam. diminuindo a pobreza? ? Alguém acredita que chegarão a um nível social e estável nos países escolhidos? Sem falar no racismo explícito?
E em se falando de brasil, ainda com b minúsculo, a pobreza dos invisíveis e não invisíveis, a carência alimentar, acadêmica e de saúde, a violência extraordinária nos centros urbanos e nem tão urbanos, com essa política medíocre, elitista e burra, países como os desse continente nunca chegarão a lugar algum.
Enfim, Borgen me fez pensar nisso tudo. O roteiro é esplêndido, atores impecáveis, e o país muito lindo.
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