AINDA ESTOU AQUI, O LIVRO.

Ainda não vi o filme, mas li o livro. Marcelo Rubens Paiva tem prosa simples, gostosa de ler, como se nos falasse ao pé do ouvido. O Livro é uma homenagem à sua mãe, intrépida, sagaz e muito inteligente. As voltas e vitórias que aconteceram na sua vida realmente são dignas de livro e de filme. 

Acompanhei o sequestro de Rubens Paiva, sabia onde eles moravam, também eu frequentava as praias do Leblon e Ipanema, e tinha amigos da minha antiga escola Mello e Souza, que moravam próximos, embora fossem de outra geração dos filhos de Eunice e Rubens. Fui lendo, e tudo muito familiar. Na época, eu era um tanto apática em relação ao golpe, lia sobre o que acontecia, trabalhava na Embaixada Americana, vivia em um mundo paralelo, e não tinha a dimensão do que acontecia, como tenho agora. O livro me levou para um terreno obscuro, envergonhado e triste. Nada que eu não soubesse, mas a força da prosa de Marcelo despertou tudo que estava sonolento. 

O acidente com ele e as dificuldades que a família enfrentou, não se pode avaliar, só eles, mas podemos sim, ter uma ideia. O livro também me despertou raiva, muita raiva, tive também um infinito nojo da capacidade do ser humano em ser mau, e claro, me remeteu a quem vocês sabem bem: um repeteco de outro governo liderado por um militar, de alta patente ou não, expulso do exército ( com minúscula mesmo) ou não, esta bosta de país vai replicar a ditadura militar brasileira nos idos de 70 e 80, se um sujeito assim ganhar.

Pelo que entendi, Rubens Paiva foi preso por um descuido dos jovens engajados na luta contra a ditadura. Jovens universitários sem muita experiência, e foi por um bilhete com o nome de Paiva e telefone que os gorilas militares chegaram até a família. Marcelo perdoou e entendeu, Eunice não e eu também não perdoaria. Leiam o livro, principalmente neste momento medonho pelo qual o país, DE NOVO, atravessa.