MARIGHELLA, O DOCUMENTÁRIO

Marighella era político, escritor (poemas ótimos) guerrilheiro comunista marxista lenilista, e principal articulador da luta armada contra a ditadura militar brasileira. Wagner Moura dirigiu um filme, tendo Seu Jorge encarnando Marighella, que já gerou uma interrogação, porque o último tinha pai europeu, italiano e a mãe, negra, descendente de povo malês, uma identidade baiana, e Seu Jorge é negro. Enfim, não vi o filme, porque soube que era bem violento, e me preservei. Todavia li tudo que saiu na imprensa como assisti ao Roda Viva com Wagner. E ontem, assisti ao documentário dirigido por Isa Grinspum Ferraz, que retrata a vida do seu tio. Gostei muito. Há o olhar afetivo, como não? mas para quem não soube que foi esse político, homem destemido, vale muito assistir, com a mente livre e sem prejulgamento.

Eu era muito jovem, a ditadura militar se estabeleceu no país eu tinha 20 anos, namorava um rapaz que fazia Belas-Artes e foi através dele que eu soube dos subterrâneos da tortura. E fui sabendo sobre outras coisas e pessoas, o caso Zuzu Angel nos jornais o tempo todo. Eu lia tudo e a impressão que eu tenho agora, era de um filme que eu era obrigada a assistir, sabendo das mortes e torturas de jovens com a minha idade, e a pergunta que me fazia era se os guerrilheiros iriam mudar o país. Chamar a atenção, com certeza conseguiram, mas a logística era muito ruim. Aqui, não era Cuba, onde Fidel foi vitorioso.

Marighella me despertava a curiosidade. Era incapaz de julgá-lo, assim como aos outros que o seguiam, eu sabia que não era a minha praia, e tentava entender esse movimento pela liberdade democrática tão perto e tão longe de mim. Ele era comunista marxista-lenilista, que no Brasil era palavrão e ofensivo, e Bolsonaro era ainda criancinha, mas se você ler o que ele queria para o Brasil é democrático, apenas isso.  O documentário de Isa Ferraz é muito bom, foca um determinado momento da História muito feio e até ingênuo. Sim, os guerrilheiros tinham como força motriz a determinação e juventude, mas eram muito ingênuos. Os black-blocks da extrema-direita brasileira que tiveram visibilidade, embora escondidos em máscaras, em 2013, esses sim são dignos de repulsa, mas aquela turma lutava por um ideal. 

Marighella lutou pelo que acreditava. De uma coragem assustadora. Mostrava a cara, combatia e escrevia poemas. Na clandestinidade, conheceu o filho já grandinho, mas a companheira era Clara Charf, hoje com 97 anos, e que dá o seu depoimento no documentário. Se fosse vivo nos tempos de hoje, também teria sido assassinado. A mentalidade do povo é matar quem tiver a ousadia de pensar diferente. Não minto, é só ler sobre petistas e bolsonaristas se matando por pensarem ideologicamente diferentes.

Adorei o documentário. Recomendo.

Comentários

A história é truculenta e sempre contada pelas guerras. Enquanto phomem não aprender a usar a inteligência, só lhe sobra a violência.

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