BRASIL PROFUNDO

Sempre vivi num nicho, classe média carioca, zona sul, bom colégio particular, acesso a curso de inglês, musica no Conservatório de Música, natação no Fluminense, amigos na rua, andava de bicicleta pela Rua Jardim Botânico, me levavam ao cinema, ao teatro, inclusive o Municipal, meu pai sempre comentava as notícias do jornal Última Hora, enfim, outros tempos. O analfabetismo na década de 50 era de 40%. Cresci, fiz faculdade, fui trabalhar na Embaixada Americana, viajei para a Europa, vivi em Portugal, me casei, voltei para o Brasil, para o meu primeiro emprego, descasei e continuei a vida. Os empregados domésticos de então, assistiam à televisão nas suas casas, novelas ou o que fosse e falavam um português razoável. Bem, me aposentei e vim morar em Petrópolis, e comecei a tomar conhecimento do deep Brasil. Imagino nos outros grotões país afora. Onde quero chegar? Na ignorância escolar de muitos dos nossos empregados, no alfabetismo gritante. Falam muito errado, mal sabem ler, quando não o sabem de fato, a falta de vontade de ouvir ou assistir aos noticiários televisivos, e serem manipulados pelos religiosos das igrejas que frequentam.  E não é pontual, é uma vastidão, podem acreditar, e eles votam. Os filhos não são estimulados a frequentarem as escolas, acredito que a ida à escola é almoçarem de novo, os deveres de casa não são verificados e vejo de perto o filho do meu jardineiro falar um português deletério enquanto o neto de minha amiga de 5 anos fala um português incrível. O filho da minha manicure, de 10 anos, também fala bem, e como o filho do meu jardineiro frequenta a escola pública. A grande diferença está mesmo nos pais. Se o casal é praticamente analfabeto, fala muito mal, o filho que ouve tudo errado, vai ter que fazer um esforço surpreendente para aprender e subir na vida. Imagine esse quadro país afora. 

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