GORE VIDAL, PALIMPSESTO, UM LIVRO FORMIDÁVEL
Neste livro memorialista, Gore Vidal, un enfant terrible, super bem relacionado, de família rica e tradicional, com laços que chegaram até na família Kennedy, o Camelot americano, me surpreendeu pela coragem e extremo despudor com que narra os fatos que mais marcaram sua vida para lá de interessante. Ele não poupa ninguém, nem seus amigos e muito menos sua própria família. Fiquei com a impressão que amou seus avós maternos e seu pai, manipulado por sua mãe Nina, que pelo que relata, uma mulher sem escrúpulos, alcoólatra e que passava para ele o seu desprezo por ele ser uranista.
O livro é para iniciados, pessoas que conhecem a literatura americana e também a história do país, creio que fica mais fácil para acompanhar o relato. Gore mistura fatos curiosos sobre as pessoas que circularam em torno de sua vida, bem como reflexões sobre literatura, história, arte e política, ele que foi político seguindo a tradição de seu avô materno e cego, senador Thomas Pryor Gore. Ao longo do livro todo perpassa o amor que teve por Jimmie Trimble, morto aos 19 anos em Iwo Jima, e seu primeiro parceiro. Interessante o fato que Gore comprou o seu túmulo (para ele e seu companheiro Howard) a meio caminho do de Jimmie.
Gore é ácido e politicamente incorreto como se diria hoje. O que ele fala da família Kennedy são fatos que o mundo só conheceu décadas depois da morte de JFK. Talvez os americanos conhecessem, mas aqui no Brasil tenho certeza que não, por exemplo. E Jackie , minha gente, uma alpinista espetacular, nas palavras de Gore, e de quem John nem achava bonita, começou a achar quando ela começou a estampar as capas das revistas americanas. Pois é, tudo isso está em Palimpsesto, um livro formidável, retrato de uma época.
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