ADEUS MARÍLIA PÊRA

Levei um susto com a morte desta grande atriz. Não sabia que ela estava doente,eu afastada, morando em Petrópolis, como iria saber? Sua morte levou-me um pedaço, somos da mesma geração, compartilhamos um Rio de Janeiro fantástico onde todos se encontravam na praia, no Cervantes, nos teatros. Nunca fui de buates.
Passei o dia reflexiva e assistindo à televisão. Os depoimentos dos colegas foram bastante significativos e alguns bastantes emotivos, Milton Gonçalves não conseguiu segurar o choro.
Tive alguns encontros com Marília e apesar do tempo que já se passou me lembro vivamente.
Via todas as suas peças ( as últimas não, porque me decepcionei com a mulher, Marília, e não tive mais vontade de lhe prestigiar. Bobagem eu sei, agora me arrependo )e saía maravilhada e quando tive a oportunidade de lhe ser apresentada, não sabia o que falar. E foi assim:
1-a primeira vez foi na montagem de uma peça de Molière no Teatro Alaska, produção de Regina e João Paulo Pinheiro, irmãos de minha amiga na época, Margarida. Regina me indicou para um papel que acabou nas mãos de Dinorah Marzullo. Quase chorei de tristeza. A estreia desse espetáculo foi simplesmente fantástica, um ator descia as escadas da plateia do Teatro com um canhão de luz em cima dele dando como aberto o espetáculo, como deviam ser as montagens francesas.  Era imponente, feérico, nunca tinha visto nada igual. Me lembro de Regina me olhando com um meio sorriso. Eu devia estar embasbacada. Depois, fomos todos jantar. Nelson Motta acompanhava Marília, o casal na minha frente e eu emocionada de vê-la a tão poucos passos de mim. Pedi a Regina pra me apresentar a ela. E ela veio até a nossa mesa e eu fiquei sem saber o que dizer. Ela não ajudou em nada, e eu falei as babaquices que todo mundo deve dizer. Ela agradeceu, pediu licença e voltou à mesa onde estava o marido.
2- André Valli que estava na peça, me convidou para uma leitura dramática de Vestido de Noiva no Teatro Gláucio Gil, e Marília estaria também no elenco. Ele seria o diretor. Aliás, que pessoa mais fofa era o André. No palco, a poucos metros dela, nossos olhos se encontraram, mas nossas almas não. Acabada a leitura, meu pai, sabendo da minha enorme admiração por Marília ( nessa época ela não era nem diva nem grande dama do teatro) fez questão de elogiá-la, comigo ao lado. Ela me olhou, olhou para o meu pai, agradeceu e foi se embora. Nós também.
3- Fiz teatro, algumas coisas na televisão, outras poucas em cinema, algumas décadas haviam se passado. Estava no Teatro Municipal, e como havia chegado cedo, desci para o Assyrius. Tomar uma taça de vinho era uma boa pedida. Ao descer as escadinhaS que dão entrada para o restaurante lá estava Marília acompanhada de um homem, que creio eu ser Bruno Faria (s?) seu atual marido, mas acho que na época ainda não era, pelo sedução que senti no ar. Ela me encarou, eu me preparava para cumprimentá-la e ela desviou os olhos.  Coisa de diva, será?
Grande atriz, não resta a menor dúvida, não vejo absolutamente ninguém que lhe chegue perto. Como somos multifacetados, fiquei feliz de ninguém ter apontado seus buracos negros. Deve ter sido boa e doce com muitos e com outros nem tanto. Foi infeliz quando palpitou sobre política, sofreu retaliação dessa classe que a endeusa fazendo espetáculos só com a família, depois todos esquecem e ela recebeu as devidas honras que tanto fez por merecer. Adeus, Marília, em  breve nos encontraremos, quem sabe dessa vez nos cumprimentaremos?

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