DANCIN'
DANCIN’
Não dançava há décadas, e o convite veio a calhar. Mas, fantasmas do passado assombraram sua mente.
-Detesto ter que esperar sentada um homem me tirar pra dançar. Já passei da idade, e quando tinha, não gostava.
- Não é nada disso. Os caras vêm incluídos no cardápio- concluiu às gargalhadas, Francisca Regina.
- Como é que é? Perguntou uma incrédula Ruth Maria.
- Simples: é um restaurante novo, chiquérrimo, e que pra atrair as mulheres ricas e sozinhas de Copacabana e adjacências, inventou esse cardápio: bufê com direto a bebida, e os rapazes pra dançarem com a gente. É caro, mas a gente pode.
Foram.
Ruth Maria entrou desconfiada. Olhou pra os lados e só via mulher. Nem um nadinha de homem. A vontade de voltar para casa foi enorme, aliada ao medo de pagar mico. Volteando pelo salão dois instrutores de dança. Homens de meia-idade, simpáticos e sorridentes.
- Será que esses dois vão dar conta desse mulherio todo? - Ruth Maria sussurrou ao ouvido de Francisca Regina.
- Não esquenta que vão chegar mais uns dois.
A princípio, Ruth Maria não olhava para o salão. Posicionou-se meio de costas, para evitar qualquer convite que a fizesse levantar para dançar. Mas, ao cabo de alguns minutos, não resistiu e olhou para frente com olhar pidão. O convite veio logo.
Levantou-se feliz, embora com medo de não acertar os pés e pisar o parceiro.
O corpo estava duro e nada dos pés deslizarem. Esforçou-se. E foi se esforçando. Os pés começaram a obedecer e o corpo foi ficando levinho. Quando terminou a música, não largava do instrutor. E ele, cavalheiro, lhe beijava a mão, sinal de que a vez dela terminava ali.
A chegada dele causou frisson. Alto, louro, cabelos rebeldes domados por um rabo-de-cavalo, fiapos de bigode no rosto jovem e bronzeado, e um vestígio de cavanhaque, que lhe davam um charme todo especial. Ruth Maria suspirou fundo, e teve raiva de não ser mais tão jovem assim. Em priscas eras, ele já estaria no papo.
Dançar com o anjo louro foi muito especial. Captou todos os cheiros que vinham do corpo do rapaz. Cheiro de banho recente, embora a camisa exalasse um pouquinho de suor.
- Bem que ele podia ter borrifado um pouquinho de perfume. Disfarçava esse cheirinho, um tiquinho incômodo. Nada é perfeito, tenho que me conformar, pensou sorrindo, embalada nos braços fortes do dançarino.
Foi nuns passos arretados de forró, que a química entre eles, subitamente, aconteceu. Os corpos se colaram de tal forma que ao deslizarem num volteio e pararem num breque, se pegaram de rosto colado e respirando no mesmo ritmo, profundamente concentrados no movimento. Ele segurou-a pela cintura, bem firme, e ela espalmou a mão nas costas dele, com determinação. Os corpos se colaram ainda mais forte, e agora eram dois em um. Tocados pela magia, continuaram a dançar, ele de olhos fechados e ela de olhos bem abertos, tentando se convencer que era verdade tudo o que sentia.
Quando voltou à mesa, perguntou para Francisca Regina.
- Será que esses caras também estão a fim de um sexo depois da dança?
- Olha, eu acho que rola. Vou assuntar.
E voltou, assentindo com os polegares para cima.
A troca de cartões foi discreta. Decidiram que o encontro seria na casa dela.
Quando a campainha tocou, Ruth Maria sentiu a premente vontade de ir ao banheiro. Era sempre assim quando estava nervosa, ou ansiosa. Mandou a empregada abrir a porta e servir um conhaque ao visitante, na sala. Ela não ia se demorar.
Voltou, pé ante pé, e olhou para ele, meio escondida, encostada a parede do corredor.
- Eu mereço, eu mereço, apesar da pouca idade desse desgraçado. Vai ver é mais novo que meu filho João.
Ruth se serviu de um conhaque, colocou um cedê de pagode, comprado para a ocasião, e os dois começaram a dançar. Os corpos, já íntimos, se encaixaram direitinho. Ela se deixava levar.
Já na cama, exigiu.
- Vou te colocar uma venda nos olhos. Gosto de sexo sadô. Você topa?
- Com você, topo tudo.
Ruth Maria prendeu os braços e pernas de Gustavo nas bordas da cama, e colocou uma venda nos seus olhos. Sentiu-se melhor assim. Inventou o sexo sadô por que sentia vergonha de expor seu corpo vivido perante a juventude avassaladora de seu parceiro.
Ela foi explorando o corpo do rapaz com ternura e sabedoria. Os beijos nos lugares certos, a mão massageando partes mais sensíveis, os beijos de língua, provocando o prazer. Na mesinha de cabeceira, o lubrificante vaginal para ser usado na hora certa. Num determinado momento, ela o desamarrou, mas pediu que ele continuasse com a venda. Com o homem em cima de seu corpo, se remexendo com vigor, Ruth Maria não pode deixar de sorrir e de se sentir vitoriosa.
- E eu que pensei que a minha vida sexual já tivesse encerrado, pensava. Nunca é tarde.
E celebrou com vontade, deixando-se levar, como na dança.
Na semana seguinte foi ao restaurante. Sozinha, sem Francisca Regina. Quando chegou, Gustavo já estava lá. Ele acenou, sorridente, e ela retribuiu.
Ao dançarem, ela sugeriu.
- E então, vamos nos ver novamente?
Ela sorriu, e encostou o rosto suavemente no dele, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. De felicidade.
Comentários
Você me fez passar o maio mico. Estou com meu professr de computador, e escolhi ao acaso esse seu conto, para aprender a fazer o comentário. E logo esse safadinho...!
Mas adorei
Bjs
Tererê
Adorei esse conto e eu me identifiquei muito com ele. Caso vc queira que eu ilustre algum conto para vc eu faço com muito prazer.
Bjs.