O DESCASO PÚBLICO EM RELAÇÃO À BIBLIOTECA ESTADUAL
Vejo o governador eleito se esforçar, em todas as direções, para fazer um governo de coalizão que beneficie o Estado do Rio de Janeiro, abandonado por sucessivos mandatos, tanto no âmbito municipal, quanto no estadual. Leio também que haverá cortes e redução de custos nos primeiros anos para compor o caixa desfalcado, deixado pela dinastia Garotinho. E que não há dinheiro para novas obras, e quem sabe até para honrar o pagamento do funcionalismo público na virada do ano. A prioridade é concluir as obras em andamento e a preocupação é a conclusão das adaptações do Complexo Esportivo do Maracanã para o Pan de 2007. Ninguém falou e muito menos lembrou do descaso público em que se encontra a Biblioteca Pública Estadual. LIVROS SÃO PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE.
Sou funcionária pública concursada, sem cargo e sem padrinho político.
Bibliotecária, trabalho na Biblioteca Estadual, vinculada à Secretaria Estadual de Cultura. O prédio está decadente por fora e por dentro, precisando de obras emergenciais por conta de sua estrutura deteriorada e cheia de infiltrações. Tudo falta na Biblioteca, do mobiliário a pessoal categorizado. O salão de leitura é uma poça de água constante. Plásticos são espalhados por cima dos livros quando chove e no chão também, que é revestido por um tapete fétido, roído e cheio de bactérias, por conta da água da chuva. Goteiras proliferam em todo o prédio. A sujeira entranhada nos livros é de dar dó: entra pelas janelas escancaradas, que deveriam ser fechadas. Bibliotecas funcionam em salas refrigeradas. Mas os arquitetos não pensaram nisso. As janelas do Salão de Leitura, em forma de persiana, estão emperradas, sujas e dificultam a circulação do vento num andar que é um forno crematório nos meses de verão, uma vez que o prédio é de concreto armado. As poucas bibliotecárias do andar usam luvas e muitas até máscara (as bibliotecárias contratadas para a informatização). O belo auditório está fechado por não haver condições de uso. Há vasos sanitários rachados e banheiros com portas internas frágeis.
O último concurso para bibliotecários foi em 1968, do qual participei. O futuro secretário de cultura fala em projetos compartilhados com outros municípios, e incrível, não fala das obras na Biblioteca
Relatórios são feitos pedindo atenção e ação do governo e sistematicamente são postos de lado. Alegação: falta de dinheiro. A atual direção, competente e esforçada (leia-se Ana Lígia Medeiros) leva o barco, mas milagre ela não pode fazer. Redige relatórios pedindo a completude das obras, que foram realmente iniciadas, mas pararam no meio. A dinastia Garotinho deve ter achado que as obras assistenciais é que rendem voto. E político precisa do voto de cabresto para se eleger.
A Biblioteca bravamente resiste. Pelo pulso firme de Ana Lígia realizam-se eventos, exposições e cursos livres.
São menos de 50 as bibliotecárias da Secretaria de Cultura. Não houve renovação de pessoal especializado. A seção infantil da Biblioteca está fechada por não haver bibliotecários para assumir as funções. Claro, que o Senhor Governador deve saber que os salários estão defasados, e que há um plano de cargos e salários, que passou na Alerj, quando o senhor era presidente e que equiparava nossos salários ao pessoal do Teatro Municipal com as mesmas atribuições. Nem a governadora Benedita, nem a governadora Rosinha se incomodaram em rever os tais planos. O salário base de um bibliotecário é de 280 reais. Há os encargos, mais a produtividade de mil reais que não é incorporada quando da aposentadoria. Então, ao se aposentar, o contra-cheque do cidadão bibliotecário, de nível superior, não chega a mil reais. Não pode, não é mesmo, Senhor Governador? É humilhante, o senhor concorda?
Que o senhor faça um bom governo, e atente para a Biblioteca Estadual e para a situação do bibliotecário, tão importante quanto o professor e o médico.
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