O BRASIL ESTÁ VIRADO DE PONTA CABEÇA- QUER DIZER, UM CAOS
Precisei viver muito para ver esse país, o que eu nasci, virado de cabeça para baixo. Nasci em 1944, naquela época o país era bastante rural, milhões de analfabetos, bebês morriam o tempo todo e vivíamos a ditadura de Getúlio Vargas. Quando fui para a escola, já na década de 50, a escola pública tinha o mesmo nível da escola particular. Meus pais me matricularam numa escola particular que foi uma referência e tanto na minha vida escolar. Amava a minha escola - Ginásio Mello e Souza, e tinha muito orgulho de levar as iniciais da escola querida no bolso da minha blusa do uniforme.
Em 1954, morre Getúlio Vargas, entra Café Filho. O chique era ser funcionário público. O serviço público era um lugar para colocar os apadrinhados - meu pai fez concurso, diga-se de passagem, e lá íamos nós. Muitos carros importados circulavam pelas ruas do Rio, embora já tivesse uma rede nacional- a Willis, se não me engano. Com i ou y? Deixa pra lá, é só para registrar, e esse relato é emocional e não histórico, ainda que os fatos que relato se cruzem.
Pela década de 60, foi eleito Juscelino com ideias grandiosas- Brasília. Queria uma capital central que puxasse o desenvolvimento do centro do país, porque o Norte e o Nordeste eram desastrosos: seca, atraso e os coronéis do sertão eram os mandantes tendo o povo sobre cabresto. Como enriqueceram esses políticos, a custa do povo, como os sheiks com o petróleo enquanto o povo não desenvolve, fica na beirada, miseráveis. Tudo a mesma coisa, muda só o idioma e a bandeira.
O povo brasileiro vibrava com Juscelino. Representava a modernidade chegando ao BRASIL.Realmente, tinha-se Niemeyer, Lúcio Costa, Darcy Ribeiro e tantos outros coroados, na sua equipe. BRASÍLIA seria o orgulho do país. Aí começou a coisa. A corrupção que grassou entre as empreiteiras, o salário dobrado para que os funcionários públicos se mudassem para lá, os benefícios que o governo oferecia para povoar aquele deserto de barro vermelho era de dar gosto. Meu pai resistiu, não sei se pensou na filha de 15 anos que estremecia ante a ideia de ir para um cidade sem mar, ou no seu imenso comodismo em ter que enfrentar algo novo. Não sei, mas a partir daí, tudo mudou, como diz a canção.
Em 1964 veio a ditadura militar. Um horror, amigos foram torturados, a liberdade de expressão foi tolhida, o país na mão dos militares, uma censura ridícula e burra, mas as melhores canções de Chico Buarque de Hollanda foram compostas nesta época. Aliás a arte efervescia. Foram anos de grande efervescência cultural embora com a censura no pé o tempo todo. Não vamos esquecer o tormento dos atores de Roda Viva, apanhando das forças de repressão. Meu deus.
Depois de anos de repressão, nada mais natural que a política fosse se distendendo abrindo a possibilidade de voto para a turma que nunca votou.
O Brasil sempre foi um país caro. Cresci, vendo meus pais contarem os tostões
No início da década de 70, passei três anos fora e quando voltei tudo estava pior. Trabalhava, e me sustentava. Na década de 80 a inflação saiu do controle, os militares começaram a fazer a transição da ditadura para a democracia, os movimentos das ruas cresciam, e todos apostávamos que enfim, seríamos uma nação com N maiúsculo, líder da América Latina. Bem, em tamanho podemos garantir que ocupamos o maior espaço.
Depois de 21 anos de ditadura militar e uma transição política negociada para a posse de um presidente civil, assume Tancredo Neves, um político respeitado e José Sarney, o rei da oligarquia no Maranhão, aquele tipo de coronel do Nordeste, que começou pobre e estava riquíssimo já na época. Ironia do destino, Tancredo não toma posse porque morre no dia seguinte, praticamente. Assume José Sarney. Governo pífio, a inflação tem uma escalada violenta. Muda-se a moeda. Só quem viveu aquela época pode lembrar como eram os preços no supermercado. Funcionários de máquina na mão trocavam os preços, sempre pra mais, em todos os artigos. Uma loucura. Havia o overnight que fizeram dos gerentes dos bancos os mais presenteados pelos clientes. Todo mundo empregava o dinheiro no overnight pra ganhar um pouco. Triste memória, que horror.
Depois de Sarney, veio o voto direto, o brasileiro compareceria as urnas e escolheria seu presidente. Pois é, quem não lembra? Entra Fernando Collor de Mello, cuja ministra da economia, uma destrambelhada emocionalmente (lembra de Bernardo Cabral e o tango a media luz?) bloqueou o dinheiro do povo, e isso gerou enfartes, o povo assustado, o comércio mais ainda, o que estava acontecendo? Este malfadado homem junto à sua Barbie do Agreste, saiu anos depois, impedido, andando de modo arrogante como sempre foi na sua vida. O país um caos novamente, melhorou com Fernando Henrique Cardoso e seu plano Real que colocou o país no rumo certo da economia. Mudou a moeda, o poder de compra 1 dolar 1 real fez a festa de muita gente, inclusive a minha. Parecia que havíamos finalmente adquirido o poder de compra.
Há quem goste, há quem não goste de FHC, mas com ele o país começou a mudar.
Havia um sindicalista que agitava as massas, Lula, Luís Ignácio da Silva, depois incorporou o apelido ao nome, O povo queria Lula no poder e por muitas vezes foi candidato, por muitas vezes foi rejeitado, até que entra um marqueteiro porreta que convenceu o povo que Lula tinha se tornado Lulinha paz e amor, e ele incorporou o papel. Simpático, sorria deixando à vista suas covinhas, e carismático do jeito que é, e agora vestindo ternura, venceu. Nossa, o país festejou. Estava na Bahia e jamais vou esquecer o entusiasmo baiano pelo novo presidente. Também eu estava emocionada, votei neste homem, que ia governar para os trabalhadores, que não ia fazer os conchavos de sempre, que não ia roubar, etc, e tal. Fez muita coisa sim, tirou muuita gente da pobreza, os bebês já não morriam tanto ao nascer, o Bolsa Família deu uma repaginada, analfabetos saíram da ignorância das letras, alguns programas sociais foram muito bons, só que com o passar do tempo muita coisa degringolou. E degringolou feio. Todos os programas sociais apresentaram fraudes - se não houver fiscalização constante o sujeito rouba, está provado. As fraudes milionárias na Petrobras, e nas outras estatais colocaram o país no fundo do abismo, as propinas, os roubos foram tão estratosféricos que o país não suportou. Uma economia errada com atores despreparados, maquiando contas e estimulando o consumo ao invés do investimento acabou com o Brasil. Estamos de ponta cabeça caindo o tempo todo. E o pior, o que dói, é que lembro que Lula dizia que não se iria mais roubar do povo brasileiro, que seu governo seria limpo. Não foi, foi mentira. Por um plano de governo roubaram e muito. Olha a fortuna do Palloci, do Dirceu, etc. etc. Se todos roubam, o PT roubou mais, e não há o que desmentir. Principalmente o partido que disse pra todo mundo que ia fazer diferente.
Presidente Obama o senhor foi infeliz na sua colocação dizendo que Lula era o cara. Bem, se tiver duas vias essa afirmação, posso até concordar, mas na época era só uma. Hoje, já há uma segunda via.
Meu deus, a classe política quase toda está comprometida. Todos roubam. No Rio Sérgio Cabral está preso, a cúpula do PT também, menos Lula, mas quem garante que um dia não irá? Parlamentares roubando do povo, aumentando seus salários à revelia, Judiciário e Legislativo se embolando, gente escrota representando o povo, milhões de desempregados, uma violência extraordinária só vista aqui e em países como na África negra e árabe onde ditadores usam de ignorância para massacrar seu povo.
Passamos uma turbulência extraordinária. Funcionários sem salário, Estados falidos, povo sem educação, à deriva, não sei, mas acho que o planeta Terra já deu o que tinha que dar. Falimos. Não tem mais jeito. Qual o próximo voo para algum outro lugar para longe desta órbita terrestre? Tem lugar? Viajo sem malas. Posso levar meus cães?
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