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Mostrando postagens de novembro, 2006

Passeio pela estrada Grajaú-Jacarepaguá

Um dia desses fui à Jacarepaguá, de ônibus. Vi pela janela imunda do veículo, detalhes que não havia percebido quando da viagem de carro. O Rio de Janeiro dentro do quadrilátero que habito está assustador, mas bem ou mal, me defendo como posso. Mas mais assustador é ver de cara os casebres das favelas, e passar por um monte delas, numa estrada onde as blitz de bandidos são o usual. Lá não tem Artplex, Estação Botafogo, teatros e shoppings. A gente é pobre pra cacete e vive de maneira muito indigna. É próximo do horror e muito semelhante ao que vi de pior na Índia. É revoltante constatar que foi por descaso público que essa chaga foi crescendo. Os políticos que governam e governaram esta cidade, junto com a cambada de deputados ineptos que ao invés de trabalharem para o povo, encheram e enchem os bolsos às custas do dinheiro público, deviam responder processos criminais por terem feito vista grossa para essa calamidade pública que foi crescendo desordenadamente que são as favelas. E

A PRIMEIRA NOITE DE VITTORIO GAMBONE

Vittorio tinha sido seu aluno de inglês. Adolescente aplicado, se destacou desde a primeira aula. Com grande aptidão para a língua, aprendia tudo rápido e ainda estimulava os colegas. Não havia quem não gostasse dele. Aquele ano passou rápido. No ano seguinte, qual não foi a surpresa da professora quando viu Vittorio, de novo, na sua turma. Continuava o ótimo aluno de sempre e a professora, feliz com o reencontro, mais estimulada ficou. Tinha certeza de que seria um bom ano letivo. O que chamava a atenção é que Vittorio nunca ia sozinho às aulas. Fazia-se acompanhar de sua mama, uma italiana gordona, muito simpática. No terceiro ano, ele mudou de turma, mas sempre via sua professora nos intervalos do café. Ele começava a perder os ares de garoto. Crescera, encorpara e a barba já aparecia, delineando seu rosto viril. Mas a mama continuava presente. No quarto ano, Vittorio, agora com dezoito anos, completava o curso

TOCAIA

Chamava-se Espoleta o pequinês de Lucy. E fazia jus ao nome. Danadinha e muito mimada, a cachorra era tratada como uma filha, sempre cheirosa, bem escovada, com lacinhos e vestidos a lhe enfeitarem, Espoleta ia com sua dona a todos os lugares. Apesar de ter sua vida controlada pelo relógio, Lucy lhe dedicava os fins de semana. Iam ao Aterro pela manhã, e à tarde, invariavelmente ao Cafeína, no Leblon. Espoleta adorava andar de carro, e debruçada na janela, latia para tudo que lhe chamava a atenção. Não havia quem não se encantasse com ela. Um dia, numa tarde, num cruzamento do Jardim Botânico, Lucy foi assaltada. Com a arma encostada no vidro do carro foi obrigada a saltar para dar vez ao ladrão de assumir o controle de seu veículo. Muito nervosa, e tremendo da cabeça aos pés, obedeceu, incontinenti, ao bandido. Só que Espoleta ficou no carro e Lucy gritava freneticamente pela cachorra. - Espoleta, por favor, devolvam minha cachorra. E saiu correndo a

Controladores de vôo

Leio no jornal O globo de hoje, que o governo argentino vai passar o controle de vôo para os civis. Igual ao Brasil, o controle está nas mãos dos militares. Os profissionais de lá têm salários baixos e não falam idiomas estrangeiros. Tal e qual. Fico pensando em outro desastre aéreo tipo Legacy por causa dos mesmos problemas em terras argentinas. Tenho um grande desânimo quanto penso no Brasil e na América Latina. Os mesmos problemas, a mesma miséria, a mesma arrogância, a mesma violência, mas para compensar temos um Gabo, Vargas Llosa, Isabel Allende, Milton Hatoum, Alicia Alonso, Nelson Freire,Walter Salles, Karin Aïnoux, Fernanda Montenegro... Vocês podem ajudar nesta lista.
AUTOPUNIÇÃO Tinha esse estranho hábito de se punir comendo os dedos. Era tal a avidez com que devorava as pelinhas incômodas, como sugava, com prazer, o sangue que jorrava, numa dentada mais arriscada. Sentinela implacável de si mesma, não se permitia sair da rotina rígida que se impusera. Mas, distraída, às vezes transgredia e, conseqüentemente, quem sofria eram os dedos. Ficavam em carne viva. Um dia em que a depressão bateu forte, ingeriu uma barra grande de chocolate. No que acabou de se deliciar, começou o martírio. Devagar, com o alicate de unhas, começou a devastar a cutícula. Feria, lambia e sugava. Enfiava o alicate, mordia, atacando laterais e polpa dos dedos. O sangue jorrava. Foi para os sabugos. Enfiou a tesourinha. Uma euforia danada foi tomando conta dela. Quanto mais aleijava os dedos da mão, mais se sentia feliz. Foi até a cozinha, pegou a faca e co

18 de julho

nasci no dia 18 de julho meu espírito que vagava e passeava pelas nuvens decidiu que naquele dia iria renascer escolheu o lar a cidade o país o casal e nesse dia iluminado nasceu nasci passadas tantas infâncias quentes verões alegres adolescências e sensuais primaveras a maturidade me pegou de surpresa e quando vi já era outono com chuvas desaguando no meu jardim mas mesmo assim ainda me emociono no dia 18 de julho com meus sonhos de menina e com saudades de mim

Milton Hatoum e o livro Dois Irmãos

Conheci Milton Hatoum através do caderno Prosa e Verso do jornal O Globo. O artigo falava muito bem desse escritor amazonense, descendente de libaneses. Minha curiosidade aguçou. Escreveu três livros e todos foram premiados. Decidi comprar Dois Irmãos. No primeiro parágrafo já estava apaixonada pelo livro. É a trajetória de vida de dois irmãos gêmeos que se odeiam. O livro é narrado por uma terceira pessoa, que não vou dizer quem é para não estragar a surpresa da própria estória. Nesta saga de uma família libanêsa radicada no norte do Brasil, Milton conta sua estória de maneira estupenda. É irresitível a maneira como descreve a Manaus dos anos cinquenta.Seus personagens exalam amor, paixão e ódio. Tudo isso escrito num português que me deu inveja. Fiquei cravada no livro e quando terminei tive a certeza de que havia lido um grande escritor. Para mim o melhor, depois de Machado de Assis. Meu amigo Sérgio Branco diz que eu tenho que ler Bernardo Carvalho, para ele, o melhor entre os melh

Marias

MARIAS.. Foi no vestiário da academia de ginástica que Maria Lúcia soltou o petardo: - Maria Cristina, como você está magra? Que que aconteceu? -Eu??? Estou com o mesmo corpo!! Maria Lúcia, indiferente ao estrago que produziu na mente de Maria Cristina, entrou no chuveiro e fechou a porta. Nisso entrou Maria Eduarda que foi logo interpelada por Maria Cristina. _ Maria Eduarda, você acha que estou mais magra? - Não, você está como sempre esteve: corpaço e dona de pernas adjetivas. Aliás, quem me dera ter suas pernas. Você não acha, Maria Fernanda - que estava fazendo escova e até então muda – que Maria Cristina está igual: nem mais nem menos magra? - Acho, e hoje em dia o politicamente correto é não falar coisa alguma sobre a aparência da pessoa. - Ah, mas assim é demais, retrucou Maria Cristina. Se é pra levantar o astral, tudo bem. - Então, vai ver que foi isso que Maria Lúcia fez. Comentou que você estava mais magra pra te agradar. Quem é que gosta de ouvir que está g

Sobre cinema: Almodóvar e seu Volver

Tenho paixão por Almodóvar e Garcia Marquez. Ambos me inspiram e me instigam. Volver, seu último filme é maravilhoso. Penélope Cruz exuberante e inspirada dá um show. Acho incrível que os atores de Almodóvar quando vão para Holywood parecem que desaprendem a atuar. Ela e Banderas quando atuam em inglês é um horror. O drama de Volver, tão igual a tantos outros é super bem contado, com uma música pontual fantástica e não sei se é a Penélope que canta, mas o solo dela é de arrepiar. Como a língua espanhola é dramática. Sempre tenho a sensação de que no meio de uma cena romântica ainda vai sobrar um tapa na cara e um olé para finalizar. Existe coisa mais dramática do que um : TE QUIERO? Achei bem fraca a atuação da adolescente. Tem um corpo lindo mas atuar que é bom, passa ao largo.

Jeitinho Carioquinha de Ser

JEITINHO CARIOQUINHA DE SER Carioquinha sou sim senhor fruto desta terra tropical anarquista por natureza mas malandro por opção - Hay ley, soy contra - comigo é assim : não leu o pau comeu brigo, dou porrada , sapateio em cima mas matar , não mato não sou um cara respeitoso em qualquer lugar urino, escarro , o escambau sem pudor e ainda saio coçando o saco trabalho ? faço é furtos oportunos cada um se vira como pode o que tenho dá pro gasto e mais não preciso não mas é na praia que me solto pra valer lá não tem essa nem de rico nem de pobre só tem o marzão e esse jeitinho carioquinha de ser

MUDANÇA DE OPINIÃO

- Garoto, não como mais. Todo mundo que estava na piscina do prédio ouviu Carla Regina, em alto e bom som. As mães dos adolescentes se entreolhavam. Então, a fofoca envolvendo ela e Carlos Henrique era verdadeira. Se bem que Carlos Henrique não era propriamente um garoto. 23 anos, estudava e trabalhava. E Carla Regina era um pouco mais velha do que ele- 25. Todavia, as mães sabiam que ela fazia o maior sucesso entre a garotada. Caio e César, gêmeos, disputavam quem seria o primeiro a receber beijinhos dela, e só tinham nove anos. Igor vivia falando das suas pernas e já tinham visto o pintinho de Luís Antônio subir quando num descuido na piscina, os seios dela pularam para fora do biquíni. Reuinão das mães, muito apreensiva. - Se ela não come mais garoto, vai comer o quê? - Nossos maridos. - Nossas filhas. Foi um deus nos acuda. Sossegaram quando ela tirou um chocolate belga da bolsa e proclamou. - O melhor chocolate do mundo. Agora só como esse.