CHICO BUARQUE DE HOLLANDA, UM SENHOR DE RESPEITO

Conviver à distância com Chico Buarque nunca foi difícil. Ele chegou na minha vida, e na de tantos outros brasileiros, com a Banda. E com a banda de pano de fundo começamos a segui-lo. Ele era tão lindo com os dentes da frente separados, seus olhos da cor da ardósia, como disse Bethânia, divinos, cantando mal, -foi muito criticado por isso-, não deu bola aos comentários, continuou cantando suas composições e lá foi ele emplacando sucesso atrás de sucesso. Suas canções tinham qualidade, meu pai adorava cantar Carolina. Depois, veio o namoro com Marieta, ela atriz da peça Roda Viva, aquela que foi censurada, e cujos militantes da ditadura caíram de porrada em cima dos atores, lembram os da minha geração? Chico casou-se com Marieta, foi embora para a Itália, nasceu Sílvia em Roma e voltaram para o Brasil. Plena ditadura, outros filhos vieram, e Chico foi crescendo em importância e em qualidade. Orgulho nacional sim. Seu pai, Sérgio Buarque autor de Raízes, fundou com outros intelectuais e Lula o Partido do Trabalhadores. E lá ía Chico, agora com os dentes da frente não mais separados, cantando, compondo e encantando. 
Separou-se de Marieta, continuaram amigos, apaixonou-se algumas vezes, e quando foi flagrado na praia beijando uma moça, foi insultado pelo marido da dita cuja. Foi, talvez nesse caso, que comecei a perceber que havia sim, uma animosidade contra ele. Li que ele também se surpreendeu com algumas notícias sobre ele, por não ser a unanimidade que pensava que fosse. E Chico não levantava bandeira para ninguém. Era petista, amigo de Lula, mas não me lembro dele ter ofendido alguém, roubado ou plagiado alguém. Um cidadão de respeito.
Fiel ao seu amigo Lula, começou a perseguição ao Chico. Ficava perplexa com o que lia sobre a raiva que despejavam sobre ele por ele manter seu apoio ao PT e a Lula. Isso me enervava, povo rasteiro esse que não separa as coisas. Ressentidos, invejosos em relação a uma pessoa, que apenas por se solidarizar com Lula recebia pedras. E ele digno, via a caravana passar. Viajava para Paris. Dinheiro dele, conquista pelo seu trabalho. E continuavam a cair em cima dele.
E agora o Prêmio Camões pelo conjunto de sua obra. Que felicidade, que orgulho num momento em que o país precisa se regozijar com alguma coisa, com alguém que nos dê orgulho de ser brasileiro, porque eu pessoalmente não tenho mais. Mas, nessa premiação fiquei feliz sim, por ter acompanhado sua carreira, sua trajetória de homem íntegro, avesso a fofocas, e seu sucesso por décadas. Bravo Francisco Buarque de Hollanda.
Só para fechar, deixo registrado a imbecilidade de uma ministra tosca, arrogante e ignorante ao comentar sobre o Prêmio Camões e Chico. Sei que você não ligou  Chico, ela vai passar, todos vão passar e você será sempre eterno.

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