ADEUS
A sensação de estranheza me pegou por inteiro. Vi-me numa bolha gigantesca, meio feto meio adulto, em círculos olhando espantado para o mundo. A cena inusitada de me sentir na bolha, desamparado, me fazia chorar lágrimas que não vinham. “Homem não chora”, dizia meu pai. Lamento, old man, chora sim e muito. Os fracos não choram se lamentam nas esquinas de suas paredes, encolhidos, esquecidos na sua má sina. Pois chorei, sim, e muito. E que bem me fez. Saiu de sua casa sabendo que não havia mais volta. Deixou para trás suas recordações de vida. A cabeça não virou para trás, mas os olhos grudados nas costas registraram o adeus dos cachorros, da empregada, das sombras amigas. Fragilizada, no passinho miúdo, foi largando cheiros e suspiros. O começo do fim. A morte anunciada. Quem sai não volta. E lá foi ela para a clínica geriátrica. Tantos velhinhos amparados por generosas mãos que lavam, secam, cuidam e dão remédios.